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O NEGACIONISMO NÃO PODE CHEGAR À ESCOLA / Coluna Papo de Mãe / Carol Vasconcelos

Parece irônico. Mas, os antigos defensores do “homeschooling” que hoje exigem a “escola como serviço essencial” para a volta às aulas em pleno contexto de pandemia de covid-19, sem as necessárias quantidades de vacinas disponíveis e o necessário quantitativo da população vacinada – em torno de 70% –, não “viraram a chave” em defesa da importância do ensino presencial simplesmente por terem percebido que o que eles trazem como “conhecimento”, e querem legitimar, em redes sociais, “lives” ou outdoors é tanto inútil quanto incompatível com o que seus filhos e filhas estudam nas escolas – e com o que esses mesmos “pais e mães”, em tese, estudaram.

Mas ele não quer só a destruição de seu próprio grupo, ele quer, se possível, a destruição do todo. Walter Benjamin, Imagens de pensamento. In: Obras escolhidas vol. II. São Paulo: Brasiliense, 1987. p. 237.Mas ele não quer só a destruição de seu próprio grupo, ele quer, se possível, a destruição do todo. Walter Benjamin, Imagens de pensamento. In: Obras escolhidas vol. II. São Paulo: Brasiliense, 1987. p. 237.

Primeiro, é preciso destacar que nessa “campanha” em torno da “escola como serviço essencial” não existe qualquer menção em relação à essencialidade dos investimentos públicos necessários, ou o essencial questionamento sobre a precarização e os ataques aos trabalhadores e trabalhadoras da educação. Ou seja, para esse grupelho “preocupado com a educação de seus filhos e filhas”, a escola deve ser reconhecida como “serviço essencial” sob a manutenção desses déficits históricos da educação pública brasileira.

Assim, para além das contradições e da retórica reacionária trazida como “argumento” por tais defensores da “escola como serviço essencial”, sabemos que esse grupelho nada mais é do que manipulado para ocultar a

incompetência e o projeto de destruição da educação pública no Brasil, na leva de mais uma “boiada que passa” na pandemia. Um projeto neoliberal que transformou governos em meras “gestões”, cujos “executivos” nada fizeram em relação a um projeto para a educação sob o atual contexto de pandemia, devido aos cortes que os mesmos empreenderam na educação.

Segundo, a retomada das atividades em ambientes em que a aglomeração é parte essencial, devido ao espaço físico apertado e a estrutura precarizada, devido aos contatos sociais caracterizados por pertences emprestados e abraços apertados, portanto, propensos à disseminação do coronavírus, nesse momento, não é apenas apressada, mas totalmente irresponsável. E esses ambientes são as escolas de Sete Lagoas, de Minas Gerais, do Brasil – sobretudo públicas (municipais e estaduais).

Pois, quando relacionamos a capacidade de disseminação e contágio que traz o vírus da covid-19 e sua letalidade, à capacidade do sistema de saúde público brasileiro, precarizado, em atender plenamente a população, podemos concluir claramente que qualquer tipo de protocolo ou “garantia” para uma “reabertura segura das escolas”, principalmente das escolas públicas, seja insuficiente para conter o contágio, a disseminação do vírus e, principalmente, as mortes.

Ou seja, a “reabertura segura das escolas”, sob o panorama atual da pandemia no Brasil, é uma falácia! Mais um negacionismo na boca e campanha dos negacionistas!

Negacionistas cujos meios propagandísticos pretensamente racionais ocultam seus fins irracionais. Negacionistas que combinam sua cegueira com a dissimulação dos fins que almejam. Negacionistas que colocam os interesses individuais e privados de sua “opinião” (pessoal) contra os interesses coletivos, mesmo que isso custe a vida de pais, mães, avôs, avós e responsáveis, assim como das crianças e adolescentes que podem ser transformados em veículos de disseminação do vírus às suas casas, às suas famílias.

Portanto, não é apenas a negação da realidade socioeconômica e socioemocional de alunos(as), responsáveis e servidores da educação, do outro, para a legitimação da própria realidade socioeconômica e socioemocional, de si; não é apenas o desconhecimento da realidade das escolas públicas, municipais e estaduais, de Sete Lagoas e Minas Gerais, entre salas superlotadas e abafadas, bebedouros e banheiros estragados, refeitórios apertados e precarizados: é a total falta de senso de realidade de “pais e mães” e de “gestores” que, enquanto desconsideram a capacidade dos hospitais públicos e servidores da saúde em atender uma explosão em contaminação pelo coronavírus, “consideram” o fato de que apenas com álcool em gel e um sistema de distanciamento e punições, os servidores da educação conterão crianças e adolescentes, hiperativos e carentes de contato físico, assim como as mortes que podem ocorrer com o retorno às aulas presenciais neste momento. Ademais, estaremos aumentado o público nas ruas e em transportes públicos e privados.

Por fim, vale salientar que parte dessa carência e do “adoecimento psicológico” de crianças e adolescentes, retratado pela narrativa dos atuais “defensores da retomada do ensino presencial”, devido à vacuidade dos processos de socialização que ocorrem nas escolas, pode ser associada a atuação de “pais e mães” ausentes que simplesmente utilizam seus filhos e filhas como joguetes para a realização de suas vontades individuais. “Pais e mães” que não querem sujar suas mãos com a educação de seus filhos e filhas, com a educação para a vida, mas querem sujar suas mãos com a “educação para a morte” no atual estágio da pandemia.

 

Mulher, Mãe, Divorciada, Graduada em Logística e Pós-Graduada em Gestão de Projetos, Coach Life and Business. Criadora do Blog Terapia de mães.

Visite o blog desta colunista: terapiademaes.blogspot.com




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