A corrida é um dos esportes que mais crescem em nosso país. Em nossa cidade vemos corredores por toda parte: lagoas, academias e ruas (com e sem buracos).
Atividade extremamente prazerosa, com bons resultados físicos, estéticos e acessível a todos. Só exige boa saúde, roupas leves e um bom tênis. Talvez aqui o único utensílio que vale um bom investimento. Os nossos pés são a base do nosso corpo e nesse esporte absorvem o nosso peso, sofrem com a temperatura e irregularidade do solo e com os nossos desequilíbrios biomecânicos. Então por que maltratá-los mais usando calçados sem absorção de impacto, apertados e sem ventilação?
No mercado existem diversos modelos de diversas marcas, cores e estilos e vendedores muito bem treinados pra te vender um par maravilhoso e, claro, muito caro. Aí vai a primeira dica: vendedores de lojas esportivas são especialistas em vendas e não em pé, ortopedia e muito menos em biomecânica. Não confie inteiramente neles e nem em testes “coloridos” que te oferecem.
Existe hoje, na fisioterapia, profissionais que defendem que os pés podem desalinhar o corpo todo e gerar lesões e outros que asseguram que os pés são apenas consequência de um mal alinhamento pélvico. Enquanto não nos entendemos vamos fazer o trabalho completo. Existem 3 tipos de pisada: neutra, supinada e pronada. Para simplificar, a neutra é a normal (fisiológica), onde o pé distribui melhor o peso do corpo. A pisada supinada é quem pisa pra fora, onde a região lateral do pé tem mais contato com o solo do que a região interna do pé. E a pisada pronada, onde há um contato excessivo na região interna do pé. O problema é que uma pisada alterada pode levar à um desequilíbrio em todas as articulações superiores: joelhos, quadril, coluna. Um exemplo. Quem pisa pra dentro (pronado) roda pra dentro também a sua canela (tíbia) e o joelho, e o fêmur e a articulação do quadril. Isso tudo rodando internamente por vários minutos, por centenas, milhares de passos… vai dar certo? Lógico que não. Aí vem as lesões: síndrome do trato iliotibial, tendinites, lesão de ligamentos, meniscos, canelite… ruim né? E olha que não falei nem a metade das possíveis lesões.
A indústria de material esportivo, com ajuda de profissionais da saúde e engenheiros, começaram a pesquisar a marcha dos seres humanos e investiram em modelos que além de melhorar a absorção de impacto, a ventilação, tentam corrigir a pisada do corredor. O tênis pra pisada pronada tem um maior suporte na região interna do pé (arco medial), o pra pisada supinada o contrário. Os dois visam o equilíbrio biomecânico dos membros inferiores e diminuir a incidência de lesões. O preço dessa tecnologia: de 250 a 600 reais. Por este valor compramos tênis confiáveis de boas marcas: americanas, japonesas e brasileiras. Existem os de 900 reais (o vendedor da loja adora), já experimentei 3, são mais bonitos que funcionais, continuo correndo com o de 400. Antes que os meus amigos de profissão briguem comigo. O melhor investimento ainda está em uma boa avaliação fisioterápica, que além de uma detalhada análise de marcha, será composta de testes articulares, composição corporal, desequilíbrio muscular, testes de força e esforço. Muito mais completo que os testes da pisada de 1 min. das lojas, né? E defendendo os profissionais que acreditam que isso tudo não passa de perfumaria, eu também pensava assim.
Depois que comecei a correr mais de 5 Km mudei de opinião rapidinho. Corro minhas meia-maratonas há 4 anos sem nenhuma lesão que impeça a minha satisfação pós corrida. Minha receita: uma consulta com um bom médico, fisioterapeuta, nutricionista, orientação de um profissional de educação física e investir em um bom par de tênis.
Cristiano Henrique Alves Costa. Fisioterapeuta sócio-proprietário das clínicas Auto Estima e Accés Fisioterapia Esportiva (Academia Nado Livre), Especialista em reabilitação esportiva, SDM, RPG, Método Mckenzie.