“Prazer, eu sou a Ressonância Magnética!” É assim que a grande maioria dos meus pacientes com dores na coluna se apresentam em meu consultório. Antes de me dizerem seus nomes e me darem a mão ou um abraço, eles me entregam aqueles enormes envelopes, muitas vezes já abertos.
Com toda educação e cuidado recebo esse envelope e o coloco propositalmente longe de nossos olhos. Nessa hora o paciente já se sente incomodado e explico que se for necessário, o consultaremos no final do atendimento.
É muito comum hoje os exames de imagem serem supervalorizados. Estes exames (Raio X, Tomografia Computadorizada, Ressonância Nuclear Magnética…) são chamados de Complementares. E o que eles complementam? Uma boa história do problema do paciente, juntamente com um bom exame clínico. Mas infelizmente, parece que a cada dia, os profissionais de saúde têm menos tempo e preparo para realizar o que deveriam, e consequentemente baseiam seus diagnósticos e condutas em exames complementares.
Em novembro de 2014, pesquisadores americanos publicaram um artigo (Revisão Sistemática) na Revista Americana de Neuroradiologia com 3110 indivíduos assintomáticos, sem nenhuma história de dores na coluna, com idade entre 20 e 80 anos. Todos eles foram submetidos à Ressonância Nuclear Magnética.
• Degeneração discal:
37% nas pessoas com 20 anos.
80% nas pessoas com 50 anos.
96% nas pessoas com 80 anos.
• Abaulamento discal:
30% nas pessoas com 20 anos.
60% nas pessoas com 50 anos.
84% nas pessoas com 80 anos.
Lembro que o estudo foi realizado com voluntários sem qualquer tipo de dor na coluna. Levando-se em conta que os discos intervertebrais são responsáveis por 95% das dores nas costas, como explicar essas “lesões” em pessoas sem sintomas?
Quando você olha para uma pessoa, percebe-se sinais de envelhecimento: cabelos brancos, rugas, flacidez, dentre outras. E achamos isso normal! Por que sinais de envelhecimento natural das estruturas da coluna são tratadas como problemas?
Os exames complementares são importantíssimos e sua evolução sempre será bem vinda. Agora, se um profissional de saúde começar uma consulta por eles, sem muitas vezes nem olhar para o seu rosto, ouvir sua história ou tocar em você e mesmo assim chegar a uma conclusão sobre qual conduta adotar, corra, ainda dá tempo. Mesmo que ele tenha cabelos brancos.
Referência:
• W. Brinjikji,et al. Systematic Literature Review of Imaging Features of Spinal Degeneration in Asymptomatic Populations. Am J Neuroradiol. USA, 10.3174/ajnr.A4173, nov./2014.
Cristiano Henrique Alves Costa. Fisioterapeuta sócio-proprietário das clínicas Auto Estima e Accés Fisioterapia Esportiva (Academia Nado Livre), Especialista em reabilitação esportiva, SDM, RPG, Método Mckenzie.