Historicamente a Educação Física foi considerada uma disciplina na qual os participantes deveriam desenvolver tarefas físicas, trabalhando o corpo e era tida como uma “fuga” em relação ao ambiente de sala de aula. Os próprios critérios de inclusão dos alunos nos cursos superiores (processos seletivos) eram providos de testes físicos e de proficiência nas diversas modalidades esportivas, o que pode ser considerado um processo exclusivo e discriminatório.
Considerando essa característica histórica da Educação Física, observamos uma dicotomia “corpo e mente” como se fosse possível trabalhá-los separadamente, sendo que havia uma grande preocupação com a formação de jovens saudáveis, objetivando a formação de um exército com soldados fortes. Apenas a partir da década de 1970, a Educação Física passou a ter um maior embasamento científico, época em que começaram a surgir os primeiros mestres e doutores e ainda a surgir os primeiros cursos de pós-graduação no Brasil voltados para essa área. Atualmente, a Educação Física busca novos rumos objetivando quebrar esses tabus que foram alicerçados ainda na época do militarismo e com isso tem seus paradigmas bem fixados. Cabe aos profissionais da Educação Física, inserir os novos conceitos dessa prática uma vez que por força legal a mesma é considerada como disciplina integrante do projeto pedagógico da escola, com uma característica interdisciplinar. Muito se diz sobre a interdisciplinaridade da Educação Física, mas de fato, o que isso significa no contexto escolar? De fato, os profissionais da educação estão preparados para abordar a interdisciplinaridade? Quando abordamos esse tema, devemos primeiramente pensar na formação do aluno como um todo e não de forma isolada.
Quando pensamos isoladamente em quaisquer das disciplinas, sendo estas consideradas “mais” ou “menos” importantes do que outras, não levamos em consideração o desenvolvimento global do aluno em suas habilidades. E de fato, o que tem sido feito pelos docentes para promover essa integração entre as disciplinas? Os planejamentos dos professores das diversas disciplinas ocorrem de forma isolada ou em conjunto com as demais? Se a resposta for um planejamento isolado por disciplina, já começa aí um sério problema, dificultado o trabalho interdisciplinar, uma vez que o próprio planejamento não ocorreu em equipe.
Considerando o papel interdisciplinar da Educação Física, deveria haver um planejamento das aulas dessa disciplina em conjunto com os professores das demais: Matemática, Ciências, Arte, Geografia, Português, Inglês, História e outras. Nesse contexto, seriam discutidas as maiores dificuldades por parte dos alunos observadas pelos docentes e assim haveria uma participação do Educador Físico, que promoveria atividades para fomentar o aluno de atribuições que pudessem tornar o aprendizado mais agradável. Apesar de parecer utopia é possível elaborar aulas atendendo às necessidades dos alunos nas demais disciplinas.
Como nós podemos desvincular a Educação Física da Matemática, se temos quadras com figuras geométricas (retângulo, quadrado, círculo, semicírculo) e ainda os jogos de tabuleiro que exigem o raciocínio lógico-matemático, ou da disciplina Ciências, se trabalhamos com o corpo humano, sistema muscular, esquelético, qualidade de vida. Na disciplina Inglês, podemos trabalhar com os termos esportivos: Handebol, córner, beque, fair-play e ainda uma quantidade enorme de palavras utilizadas nos esportes. Na Física podemos explorar a velocidade ou o movimento da bola de basquete na hora do arremesso, de um chute ao gol no Futsal e ainda da velocidade de corrida e fase aérea no salto em distância.
Dessa forma, podemos observar uma série de atividades que irão fomentar o aluno de uma gama de conteúdos e valores contribuindo assim para a sua formação integral. Para isso, o corpo docente das escolas, deveria deixar de lado os conceitos às vezes enraizados desde a sua formação como professor e abraçar a causa desse novo conceito da educação, que leva em consideração a formação integral do aluno e que o processo ensino-aprendizado ocorre de forma dinâmica. Por outro lado, se a abordagem da Educação Física ocorrer de forma integrativa, por que não avaliar as demais disciplinas durante a Educação Física? Se o aluno se mostra capaz de interpretar e redigir textos, realizar cálculos, construir, relatar ou apresentar desenvolvimento em suas diversas capacidades, isso deve ser considerado na avaliação de todas as disciplinas, uma vez que isso é aprendizado. Assim, na proposta pedagógica da escola, deveria ser estipulada uma pontuação nas demais disciplinas que deveria ser distribuída dentro da Educação Física, sendo esse processo mediado pelo professor da disciplina em questão, em conjunto com o Educador Físico.
A cada bimestre ou trimestre os professores deveriam se reunir para traçar metas para o próximo período e definir os temas abordados, cabendo ao professor de Educação Física, a elaboração de atividades que propiciem o aprendizado do aluno. Dessa forma, teremos uma avaliação global dos conhecimentos do aluno, sendo que a abordagem interdisciplinar da Educação Física ocorrerá no início (planejamento) meio (execução das atividades) e fim (avaliação), apesar de que a avaliação deverá ocorrer em todo o processo e de forma integral.
Emerson Rodrigues Pereira (CREF 13880 G) é mestre em Ciências do esporte (UFMG -2011), graduado em Educação Física no UNI-BH (2006), pós graduado lato sensu em Nutrição Humana e Saúde (UFLA-2007) e em Treinamento Esportivo pela (UFMG -2008). Sua linha de pesquisa está relacionada à Fisiologia do Exercício com ênfase em termorregulação, metabolismo e fadiga.