Em 1980, em um cenário de constante temor — no contexto geral pela Guerra Fria e, no contexto local, pelo terror do Baader-Meinhof — a banda Abwärts lançaria seu primeiro álbum, Amok Koma, pelo selo independente ZickZack. Autofinanciado, produzido, gravado, divulgado e vendido pela banda, que também organizava os poucos shows de promoção, Amok Koma é um dos melhores exemplares do post-punk germânico, replicando e expandindo o que de melhor o estilo ofereceu: guitarras angulares (remetentes ao Wire, como em “Mehr”), baixos de uma nota em um ritmo constante (“Unfall” e “Türkenblues” — esta última uma prima em primeiro grau de “Killing an Arab”, do The Cure), gente desafinada cantando ou tentando cantar (“Bel Ami”), experimentos com sintetizadores (“Shanghai Stinker”), baterias ora “four on the floor”, ora seguindo fosse lá qual fosse o ritmo sugerido pelas guitarras e baixos (“Monday on my Mind”), estranheza pura (“Ich Bin Stumm”) e, claro, a urgência do punk rock clássico (“Karo ¼ 08/15 Hoch 02” e “Softly, Softly”). A edição em CD inclui, além de Amok Koma, o debut EP de 5 faixas Computerstaat (sendo a faixa-título o grande clássico definidor do Abwärts).
Em 1980, Berlim ainda estava dividida (ou fora dividida…), entre as comodidades capitalistas do setor ocidental (franco-britânico-americano) e a falta delas no setor oriental (soviético — o Berliner Mauer, com suas cercas eletrificadas, “camas de pregos” e torres de metralhadoras, como cantadas por Bowie em “Heroes?”, impossibilitava os moradores do setor soviético, interessados naquela tal liberdade, de terem qualquer oportunidade de um pulo salvador para o outro lado). Nesse cenário de constante tensão ideológica e militar, o Abwärts também se dividiu, com os integrantes FM Einheit e Mark Chung indo se juntar ao Einstürzende Neubauten, tocando embaixo de viadutos e utilizando tonéis e placas de metal como instrumentos. Após isso, o Abwärts pararia por um tempo, retornando em 1988 e permanecendo em atividade até o lançamento de seu álbum mais recente, Superfucker, em 2023.
Neue Deutsche Welle: paranoia, urbanismos falidos, concreto totalitário e claustrofobia, na transcultural e onipresente fobia adolescente ao tédio, quase uma “polaroid” musicada da sua especificidade temporal e local. Não é para qualquer um, mas para quem é, é um clássico underground.
- Baixo – Mark Chung
- Bateria – Axel Dill
- Guitarra, vocais – Frank Z.
- Sintetizadores, efeitos e vocais – F.M. Einheit
- Violino, vocais – Margit Haberland
- Engenheiro – Herbert Boehme
- Produtores – Abwärts, K. Maeck
- Capa – Abwärts, Walter Hartmann