Discos Essenciais 03 – Xmal Deustchland – Early Singles 1981-1982 | Coluna

O que pode ser mais avesso à desgraça sociocultural e intelectual chamada “carnaval” no universo? Um disco de goth-death-rock alemão!

Xmal Deutschland (pronuncia-se “iksmal doishland”) foi uma banda do então em ascensão movimento “gótico”, “goth”, “death rock”, whatever, uma espécie de “resposta germânica” ao Siouxsie and the Banshees (fortemente influenciada, na verdade, pelos vocais de Anja Huwe, também principal compositora da banda, que lembram diretamente os de Siouxsie Sioux). Inicialmente um quinteto exclusivamente feminino, Anja se tornou, assim como Siouxsie, uma das musas do gênero, com sua beleza etérea fora do comum. A banda permaneceu em atividade de 1980 a 1990.

Early Singles é uma compilação dos EPs e compactos lançados pela banda entre 1981 e 1982, antes de seu álbum de estreia, Fetisch, em 1983. As faixas 1 a 3 trazem Schwarze Welt, primeiro EP da banda, lançado em 1981, com uma forte influência de New Wave (teclados que parecem de brinquedo, faixas curtas, bem menos próximas do clima soturno característico do goth – soando até “alegrinhas” em alguns momentos). As faixas 4 e 8, “Kälbermarsch” e “Allein”, foram retiradas dos álbuns Lieber Zuviel Als Zuwenig (ZickZack Sommerhits 81) e Nosferatu Festival, respectivamente, ambos compilações da gravadora ZickZack.

Em 1982, lançam o segundo EP, Incubbus Succubus, um 12 polegadas/45 RPM com três músicas: a clássica faixa-título no lado A, e as não menos emblemáticas do estilo, “Zu Jung Zu Alt” e “Blut Ist Liebe” no lado B. Este EP já trazia muito da “cara” do goth: a inépcia não exatamente disfarçada em batidas de bateria, ora tribais, ora truncadas; uma guitarra jingle-jangle imersa em chorus e delay (se você não conhece esse termo, imagine o “tocador de violão de botequim” mais fuleiro que você conhece tentando imitar aquelas batidinhas pseudofunkeadas a la Lenine, ou o “plastic funk de branco” da fase Young Americans de David Bowie, também é algo próximo…); o baixo uníssono seguindo a bateria de maneira bem destacada; e o vocal semi-desafinado, posto que quem o estava fazendo era a única pessoa capaz de cantá-lo menos mal que os demais. Mescle essa inépcia com aquele baixo astral momentâneo e gostoso (não se engane, você também foi adolescente se apegando às suas neuroses, se não o faz até hoje), tudo isto numa ambiência noturna e urbana. Lautréamont e Augusto dos Anjos num boteco. A trilha sonora decadentista perfeita. Goth.