Em 1997 (sim, mais uma vez esse ano…), enquanto sob olhares complacentes do Blur, Oasis e Radiohead brigavam para ver quem seria o melhor em coisas completamente diversas (mas que resultavam no mesmo desinteresse deste que aqui escreve), respectivamente, a banda mais “burrona” e genérica do mundo e do outro lado a banda mais pseudoexuberante e impenetrável de algum quarteirão de Abingdon, enfim, paralelo a essa “briga de foice cockney”, o Mansun lançava um dos discos mais essenciais daquela cena duvidosa e comercialmente vendida como “britpop”.

Formada em 1995 por 2 amigos que trabalhavam com retoque fotográfico e já tocavam em bandas na cidade de Chester, inicialmente chamada de Grey Lantern (sim, o personagem da DC – felizmente mudaram de ideia antes que acontecesse o mesmo que ao Jota Quest – “Gê Lantern”?), e na sequência “Manson”, mudando a grafia deste último nome para Mansun após ameaça de processo pelos representantes legais de Charles Manson… mantenha distância de profissionais criativos. Em 1995 e ainda sob o nome Manson, lançam um primeiro single autofinanciado que chamaria a atenção das gravadoras e de influenciadores como John Peel, Take It Easy Chicken.
(Not so) long story short: com a mudança de nome e o sucesso relativo e localizado no Reino Unido, a banda consegue estabilizar sua formação, gigs maiores aparecem para então o primeiro álbum, Attack of the Grey Lantern ser gravado em 1996 e lançado em fevereiro de 1997 pela Parlophone.
Attack of the Grey Lantern é uma obra-prima tardia do tal BritPop (vamos deixar este rótulo estúpido de lado: a última vez que ele é utilizado no mundo será neste texto, afinal o que Mansun fez aqui foi música atemporal). Taxloss com seu ritmo entusiasmante e refrão inspirado em Taxman dos Beatles, mas sendo esta uma referência interessante ao invés da quase sempre falha tentativa de seus conterrâneos em serem “maiores que os ‘Bitous”. Mansun’s Only Love Song (o título faz referência à decisão da banda não incluir canções de amor em seus álbuns), é uma quase balada com, novamente, um ritmo contagiante (anotem: este é o ingrediente secreto de qualquer música que mereça ser chamada de “boa”), e um refrão com vocais mistos masculinos e femininos bastante memorável. Stripper Vicar, com suas harmonias vocais e guitarras Power Pop contrastando com o peso de camadas e camadas de guitarras sobrepostas em You, Who do You Hate? (primeira música escrita pela força criativa do Mansun, Paul Draper, aos 15 anos de idade e com todos os instrumentos tocados por ele). Disgusting com arranjos vocais complexos e violões, Naked Twister, She Makes My Nose Bleed, enfim, todas as 11 faixas são necessárias. Procure pela versão Collector’s Edition lançada em 2010 (49 faixas distribuídas em 3 CD’s, incluindo o álbum original, singles, demos, raridades e faixas ao vivo).
Em tempo: enquanto o Blur olhava de longe a contenda Oasis/Radiohead, como um conspirador shakespeariano oculto nas sombras, uma hiena secando tanto Scar quanto Mufasa cobiçando o reino para si, o Mansun os desbancava da parada com Attack of the Grey Lantern, na qual permaneceu por 19 semanas com 5 singles atingindo o número 1. Notável para um grupo de sujeitos que mal sabiam tocar seus instrumentos em 1995…

Tracklist:
- The Chad Who Loved Me
- Mansun’s Only Love Song
- Taxloss
- You, Who Do You Hate?
- Wide Open Space
- Stripper Vicar
- Disgusting
- She Makes My Nose Bleed
- Naked Twister
- Egg Shaped Fred
11a. Dark Mavis
11b. An Open Letter to the Lyrical Trainspotter (Hidden track após 2 minutos de silêncio ao final de Dark Mavis)
Formação:
Dominic Chad – Guitarra solo, piano, backing vocals, sintetizador
Stove – Baixo
Andie Rathbone – Bateria
Paul Draper – Vocais, guitarras, piano, sintetizador, baixo (4) , bateria (4), produção e composição de todas as faixas
Stefan Giradet – Arranjos de Cordas