Cults é uma daquelas bandas saídas do multiverso Bandcamp para, durante um breve período, imaginarmos que o nada amorfo da música pop contemporânea ainda tem salvação… eu estou exagerando por uma questão de dramaticidade estilística clichê, claro: Cults é apenas uma boa banda com algumas boas músicas. A música pop não tem salvação.
Formado pelo duo Madeline Follin e Brian Oblivion, Static foi o segundo disco do Cults, lançado em outubro de 2013 após a longa turnê do disco de estreia de 2011. Até pouco tempo antes, também um casal na “vida real”, Madeline e Brian acabaram capturando em Static algo do sentimento de um rompimento somado à necessidade de ainda trabalharem juntos no projeto, assim como Stevie Nicks e Lindsey Buckingham no clássico Rumours do Fleetwood Mac: Static não versa basicamente sobre relações rompidas e sim sobre o sentimento de vácuo daquela geração (acho que millennials entrando na vida adulta…), mas rompimentos e o sentimentalismo romântico vem dando combustível para essas coisas há milênios, além de ser psicologicamente impossível dar by-pass numa separação e toda desgraça momentânea que isto causa.

I Know abre o álbum de forma breve e em meio a ruídos de estática e microfonias (diz-se que durante as gravações foram colocadas no estúdio várias televisões antigas reproduzindo apenas estática e white noise de maneira a transmitir a vibe desejada). I Can Hardly Make You Mine, a mais rock n’ roll do álbum, vem na sequência, seguida de Always Forever, talvez a mais conhecida deste trabalho, e que melhor entrega a fórmula estilística básica do Cults: influências sessentistas, principalmente dos grupos vocais femininos como Shirelles, Ronettes e Chiffons, apresentadas com o cuidado técnico do lo-fi bem calculado das produções pós-2000, um elemento semioticamente nostálgico a mais mesclado à força das guitarras e elementos high-fi atuais.
High Road foi um dos singles do álbum e outro exemplo de boa produção pop, enquanto Were Before é a única que traz os vocais divididos entre Madeline e Brian. So Far possui uma orquestração de cordas opulenta e bela melodia vocal: um dos pontos positivos da música do Cults é ser “climática” (seja lá o que isto quer dizer, sentimentos são pessoais e intransferíveis, você saberá ao escutar). Keep Your Head Up é a única que para mim não funciona tão bem, mas TV Dream vem trazer o álbum de volta à fórmula básica já citada. Shine a Light é uma das melhores em termos de simplicidade e acabamento.
No Hope fecha o álbum com seu piano lo-fi e a sempre constante influência dos all girl groups sessentistas, sendo que o wall of sound aqui é dado pelas camadas de guitarras imersas em ambiência de Brian, com o arranjo ironicamente “otimista” servindo de acompanhamento para uma letra não tão otimista assim:
Calm so defeated
It all turned to gray
The days much colder and there’s not much left to say
Tried to stop from shaking
Want to feel you close
You kept your distance when I needed you the most
O Cults continua em atividade com Madeline e Brian ainda ocupando seus postos principais, sendo que o álbum mais recente do duo foi To the Ghosts, lançado em 2024.
Formação:
Madeline Follin – vocais, produção
Brian Oblivion – vocais, guitarra, baixo, teclados, produção
Músicos Adicionais:
Hamilton Berry – cello, orquestração
Loren Shane Humphrey – bateria
Marc Deriso – bateria
Cory Stier – bateria
Jason Kingsland – baixo, vocal engineering
Will McLaren – guitarra
Arthur Moeller – violino
Gabriel Rodriguez – guitarra, percussão, backing vocais