Um homem tinha uma vaca. Ele gastava com ela 10 moedas por mês, com alimentação. O leite dessa vaca rendia ao homem 40 moedas por mês de ordenha. Como ele tinha 30 moedas de lucro mensal, foi juntando, juntando, comprando novas vacas, e conseguiu pouco a pouco, com o passar dos anos, construir sua casa, comprar objetos domésticos, terras, plantar legumes e frutas e comprar mais vacas. Muitas outras vacas. Cada uma lhe rendia em torno de três dezenas de moedas por mês, e como eram muitas vacas, o homem logo tinha um grande patrimônio, em vacas e diversas outras coisas. O homem ficou rico e feliz. Tudo ia muito bem, cada vez melhor.
Um dia, as vacas adoeceram de forma complemente inesperada. Muitas vacas na redondeza também estavam debilitadas. O homem teve que comprar remédios, pagar veterinários, mexer nas instalações e parou de vender o leite. Nesse mês, as vacas não lhe renderam a costumeira quantia em moedas. Ele tinha um enorme rebanho doente. Pela primeira vez, em anos e anos de prosperidade e lucros ascendentes, o homem viu suas vacas lhe causarem prejuízo. Cada vaca, nesse mês, além de não lhe render as 30 moedas mensais, custou-lhe duas boas dezenas nos bolsos.
As perspectivas para os dias próximos não eram das melhores, segundo os veterinários e o andamento da doença, e então no segundo mês da epidemia o homem acabou com a criação. Pôs fim ao rebanho. Muitas pessoas trabalhavam para ele com as vacas. Muitas pessoas consumiam o leite produzido. Com prejuízo não se pode! O homem fechou seu curral.
Por que empresas multinacionais, de patrimônio quase inestimável, com milhares ou milhões de empregados, com inúmeras fábricas ou agências, diversos produtos, marcas ou serviços, com tantos anos de mercado e credibilidade corporativa, fecham suas portas com dois meses de “crise”?
Por que empresas que lucraram absurdamente durante tantos e tantos anos não puderam suportar dois meses de prejuízos que perto dos lucros históricos são centavos?
Por que os dirigentes, sócios e acionistas, que se regalaram por anos a fio no lucro transbordante de suas empresas, não podem retirar migalhas de seu patrimônio pessoal para manter a empresa de pé e seus empregados nos seus postos de trabalho?
Demissões, pedidos de empréstimo de dinheiro público, decretos de falências, etc., assim tão rápido?
Para onde foi o dinheiro lucrado por tantos anos?
Os demitidos estão passando necessidades: “culpa da crise…” Os contribuintes estão pagando seus tributos e os governos, para evitar o pior, injetando dinheiro público em particulares: “é a crise…” Há sobra disso, falta daquilo: “essa crise…”
Algum grande dirigente desses bancos quebrados ou dessas montadoras que demitem diariamente está passando necessidades básicas?
Aqueles que estão no topo da cadeia causal dessa crise não ficarão “no vermelho”, não passarão por verdadeiras necessidades, não precisarão fazer “bico” para pôr comida em casa.
O rebanho deu prejuízo? É, meu caro, eles fecharam o curral.