Com seus 7.491 quilômetros de extensão, o litoral brasileiro ganha destaque por ser um dos cartões de visita do Brasil ao mundo. Milhares de turistas são atraídos pelas belezas naturais e por toda história que envolve essa região, além de desempenhar um ponto estratégico para o comércio exterior ao ser a principal porta de entrada e saída de mercadorias do país.
Embora o comércio e o turismo ajudem a expor a imagem do Brasil em outros mercados e diferentes culturas, são setores mais sensíveis a qualquer instabilidade econômica, a algum tipo de desequilíbrio ambiental ou até a uma crise de saúde pública. Da mesma forma, incertezas de qualquer natureza, em outros países, são sentidas de forma mais acentuada nesses dois segmentos da economia.
Ao longo dos anos, os países têm buscado construir alianças, por meio de acordos reconhecidos, que além de trazer ganhos mútuos mais significativos do ponto vista socioeconômico, exercem maior influência no modo pelo qual as nações passam a estabelecer algum tipo de relação. Tanto que o comércio e o turismo, dentro dos seus respectivos segmentos, aparecem como um dos principais termômetros na economia dos países.
No caso do Brasil, o turismo e o comércio caminham de mãos dadas em diversas regiões, já que um reflete no outro. Isso quer dizer que criar meios para fazer um turismo sustentável fortalece o comércio local e, consequentemente, atrai os olhares de investidores àquele lugar. Se bem que, por outro lado, o comércio não necessariamente precisa do turismo para se desenvolver.
Neste sentido, fazer comércio exige, entre outras ações, criar meios para fazer com que mercadorias e matérias primas cheguem de diferentes lugares às empresas. Constroem-se, a partir dessa necessidade, canais de distribuição – aqui chamados de modais de transporte – para ligar não só empresa-empresa, mas, essencialmente, conectar pessoas de diferentes lugares e nacionalidades por meio do comércio.
Observa-se que a exploração dos mares permitiu criar um dos modais de transporte mais utilizado na rota comercial de mercadorias e, dentro deste contexto, o Brasil ganha destaca (1) por ter no modal aquaviário, o principal canal utilizado à entrada e saída de mercadorias do país e (2) por ter no litoral, um forte atrativo turístico e cultural, além de uma rica e vasta biodiversidade.
No âmbito do comércio, os principais produtos de origem brasileira – sejam os considerados básicos, semimanufaturados ou manufaturados – chegam a diferentes destinos pelo mar, assim como as importações concentram um grande volume de operações nesse modal.
Segundo a Agência Nacional de Transportes Aquaviários – ANTAQ, foram movimentados, em 2019, cerca de 1,104 bilhão de toneladas de carga, nas 215 instalações portuárias no Brasil, destacando China e Estados Unidos como os dois maiores parceiros comerciais.
Por outro lado, do ponto de vista ambiental, as embarcações que chegam de diversos países aos portos brasileiros têm causado alguns transtornos às regiões litorâneas. Isso se deve ao fato de que nos porões dos navios, quando preenchidos com água, ainda no porto origem, a fim de manter a estabilidade do próprio navio, contêm também esgoto, diversos tipos de materiais tóxicos e orgânicos, além de animais e vegetais coletados juntamente com a água.
Ao ser despachada no litoral brasileiro, durante o carregamento/descarregamento do navio, essa água – também conhecida como “água de lastro” – contamina a vida marinha e permite aos animais oriundos de outros lugares se proliferarem por não terem predadores naturais no país.
Ainda neste tocante, outra preocupação ambiental refere-se às embalagens de madeira que chegam junto às cargas. Essas embalagens podem conter pragas e, caso cheguem ao Brasil sem o devido tratamento fitossanitário (ou fumigação), amparado pela Norma Internacional de Medida Fitossanitário – NIMF 15, causarão enormes prejuízos à agricultura do país. Veremos mais a respeito desse tópico em outro artigo.
Partindo para o contexto turístico, embora o mar não seja o meio mais utilizado pelos turistas para chegarem ao Brasil como se percebia no passado. Não significa dizer que a região litorânea não represente um dos destinos mais procurados tanto pelos próprios brasileiros quanto pelos estrangeiros.
Para que se tenha uma ideia, segundo o Ministério do Turismo, cerca de 6.62 milhões de turistas chegaram ao país em 2018, gerando uma receita cambial (gastos de turistas no Brasil), no montante de US$ 5.92 bilhões. Observa-se que 37,7% dos turísticas são da Argentina, seguido dos Estados Unidos, com 8,1%, e, fechando a lista das três principais origens, aparece Chile, com 5,9%. Enquanto isso, os destinos mais procurados pelos estrangeiros são as regiões Sudeste (88%) e Nordeste (6.5%).
Quando se fala, portanto, do que o mar traz ao Brasil, a própria história tem nos dado provas da importância dos mares para a fortalecimento das relações comerciais, para a expansão do turismo no litoral do país e, essencialmente, falar do passado sem fazer uma viagem pela exploração dos mares e por tudo que essa prática levou daqui e também trouxe para o Brasil é apagar um pouco da nossa identidade para as gerações futuras. Espero que o mar continue exercendo um forte papel para a economia do país e ajude a aumentar ainda mais a presença da marca Brasil em diversos lugares do mundo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
TURISMO. Dados e fatos. Disponível em: <http://www.dadosefatos.turismo.gov.br/2016-02-04-11-53-05.html>. Acesso em 28 Mar 2020.
IPPC. Normas Internacionais de Medida Fitossanitária. Disponível em: <https://www.ippc.int/largefiles/NIMF_15_2009_PTFINAL_0.pdf>. Acesso em 28 Mar 2020.
MMA. Informativo Água de Lastro. Disponível em: <https://www.mma.gov.br/informma/itemlist/category/111-agua-de-lastro>. Acesso em 29 Mar 2020.
WHATSREL. O mercado de trabalho no Comércio Exterior. Disponível em: <http://whatsrel.com.br/post/146/>. Acesso em 29 Mar 2020.
Franciney Carvalho é graduado em Administração com ênfase em Comércio Exterior pelas Faculdades Promove e pós-graduado em Logística pela UNA. Professor de Comércio Exterior nos cursos de Administração, Logística e Contabilidade no Centro de Formação e Aperfeiçoamento Profissional – CEFAP.