Com mais de três milhões de habitantes, Buenos Aires possui aproximadamente 400 livrarias. Isso representa uma população bem informada e extremamente politizada. Digo isso, por conhecimento próprio. Passei o verão passado na Argentina e esse foi um número que me surpreendeu bastante. Todos nós sabemos da cultura do país vizinho, mas 400 livrarias é demais. Ou melhor, é perfeito!
Livraria El Ateneo |
O apogeu econômico da Argentina, entre o século XIX e o XX, possibilitou que o país fosse um dos mais ricos do mundo nesse período. Toda essa questão histórica é uma das explicações de sua urbanização de grandes e belos edifícios, palacetes com ar europeu e suas largas avenidas que integram rapidamente centros importantes da capital. Além disso, outros pontos importantes como, a forte classe média e a implantação de um excelente sistema público de ensino, estimularam a cultura e educação do país.
Uma capital cheia de peculiaridades que permite aos seus habitantes um transporte público eficaz, rápido e barato. A urbanização de Buenos Aires é um fator de caráter prático tanto para população quanto ao turismo. É possível avistar, no meio da cidade, lugares que ao nosso jeito brasileiro não são muito comuns. Ao contrário de Belo Horizonte, por exemplo, o estádio de futebol mais conhecido da Argentina “La Bombonera” está nos bairros centrais da cidade, assim como o zoológico, a ferrovia, estradas e outros. Ainda na comparação a BH, a cidade onde morei nos últimos quatro anos, observa-se a diferença no planejamento. Grande parte da população atravessa a cidade para ir ao Mineirão, por exemplo.
A Argentina foi colonizada principalmente por espanhóis e italianos. Por isso, a gastronomia da capital federal tem ótimos representantes de pastas, paellas e frutos do mar. Sem contar a carne argentina que tem a fama de ser a melhor do mundo. O consumo do vinho no país também é enorme. Os argentinos bebem ,aproximadamente, 40 litros de vinho ao ano, enquanto os brasileiros não passam de uma média de 2 litros.
Um traço essencial dos “portenhos” são os cafés que tomam conta da capital, onde as pessoas passam horas lendo jornais ou livros quando não estão debatendo assuntos como, política e futebol: paixão nacional. O tango, uma invenção argentina, é uma manifestação forte dos portenhos, mas não significa que eles escutam isso todo o tempo. Pelo contrário, grande parte deles não sabem sequer dançar ou escutam o gênero. Apesar de muitas mostras nas ruas e a qualidade da música.
Ponte”La Mujer” em Puerto Madero parte moderna e nobre da cidade |
Infelizmente, como qualquer outro país latino, encontramos também violência e população abaixo da linha de pobreza. No entanto, a grande maioria da classe baixa é composta por pessoas de outros países latinos, por exemplo, da Bolívia. Pois, a mão de obra é barata e, muitas vezes, fazem trabalhos informais por um preço aquém do salário mínimo que corresponde cerca de 1.000 pesos. É comum avistamos pedintes e necessitados. Após a dolarização da economia argentina nos anos 90, conhecemos um país decadente, com um desenvolvimento fraco por causa de uma crise econômica devastadora.
O pior que poderia ter acontecido ao país foi o Plano Cavallo. Igualar 1 peso a 1 dólar americano, fragilizou a economia e permitiu que muitas empresas nacionais fossem a falência, porque não era possível competir com os produtos importados. Muitos eram os bancos estrangeiros, pouco emprego e uma estagnação da economia. Hoje em dia, quando caminhamos pelas ruas da capital, vemos a quantidade de carros velhos e escassez de tecnologia, devido ao plano econômico que literalmente, caiu do Cavallo. Apesar disso, a Argentina é encantadora… Vale a pena conhecer!