Você já se perguntou por que a cada dia novas versões de produtos tecnológicos com pequenas melhorias são lançadas no mercado, tornando as versões anteriores obsoletas? Assim como as roupas, nossos aparelhos tecnológicos, sejam celulares, eletroeletrônicos e até carros saem de moda de uma estação para a outra. Parece que é tudo combinado… E é!
A esse processo de propositadamente desenvolver, fabricar e distribuir um produto para consumo de forma que se torne obsoleto ou não funcional especificamente para forçar o consumidor a comprar a nova geração desse produto dá-se o nome de obsolescência programada. E não adianta só culpar a indústria de consumo por isso. Nós também temos parte da culpa.
Vale lembrar que as duas primeiras versões do iPhone, da Apple, lançadas em 2007 e 2008, não tinham a função de gravar vídeos, embora já viessem com câmeras de dois megapixels apenas para fotografias. Isso significa que ainda não havia tecnologia suficiente para filmar com o celular? Claro que havia! Tanto que quase todos os outros aparelhos da época já filmavam, mesmo que fosse na terrível extensão 3GP.
Cabe nos questionar: será que o guru da inovação, Steve Jobs, logo ele, não pensou nisso antes? Um celular que também filmasse? Claro que sim! Aí está o cerne da obsolescência programada. Por que lançar todas as inovações agora se daqui a seis meses ou um ano podemos incluir essa funcionalidade em uma “nova” versão? É isso que mantém o produto sempre em alta no mercado.
Outras funcionalidades do aparelho da Apple, já em sua sexta versão, até hoje não integradas são rádio FM, expansão de memória, função pendrive, dual chip, TV digital e, até a versão 4, nem câmera com flash de LED tinha. E você acha que os applemaníacos se importam? A cada anúncio de uma nova versão, geralmente em pouco mais de um ano entre uma e outra, filas gigantescas são formadas dias antes de a novidade chegar às lojas do mundo.
Daí o título deste artigo: a culpa também é sua! Cada vez que você adquire um novo produto apenas porque é a nova versão, você contribui para uma obsolescência programada cada vez mais curta. No mundo da tecnologia funciona assim: quem compra primeiro, paga mais caro por um produto menos completo. Pense nas primeiras pessoas a comprarem um aparelho de Blu-Ray. Em poucos meses, esses aparelhos se tornaram obsoletos, pois não tinham uma função básica em qualquer aparelho de DVD atual: entrada USB para execução de MP3 e de arquivos de vídeo com codec Xvid (facilmente baixados na internet). Agora imagine quem comprou, no final dos anos 80, aqueles aparelhos de laserdisc?
Para quem não se lembra, o laserdisc foi o ancestral mais próximo do DVD. Era um disco digital, como os atuais DVDs, mas do mesmo tamanho de um disco de vinil. A capacidade era pequena. Assim, qualquer filme com mais de duas horas de duração precisava, além de ter que virar o “bolachão” (assim como os LPs, o laserdisc era gravado dos dois lados), de um segundo disco. Imagine o desconforto de, no meio do filme, ter que levantar para virar o disco…
A lição que fica é: antes de aderir ao impulso de comprar um novo modelo ou versão, se questionar: eu realmente preciso disso? Essa nova versão apresenta algum atributo que vai facilitar mais a minha vida do que a versão atual que eu já tenho? Se for apenas uma questão de status, cuidado para, na tentativa de ser considerado o mais legal da turma, acabar se tornando o bobo, com uma versão de transição nas mãos.
Marcelo Sander – @mbsander
Jornalista, especialista em Marketing Político, Gestão de Projetos Culturais e Web Jornalismo. Palestrante e professor de Novas Tecnologias, Marketing Digital, Comunicação Empresarial e Mercado Profissional nas Faculdades Promove. Gerente de Gestão Estratégica e de Resultados da Secretaria Municipal de Orçamento, Planejamento e Tecnologia de Sete Lagoas. Editor do blog www.mercadowebminas.com.br. Com passagens por agências digitais em Belo Horizonte, Governo de Minas, Prefeitura de Sete Lagoas e Câmara Municipal, trabalha com conteúdo web desde 2001.