Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet
O tema da redação do ENEM 2018 foi “Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet”. A introdução foi baseada no artigo “O gosto na era do algoritmo”, de Daniel Verdú, publicado em 2016 no site do El País (leia aqui). O texto II foi retirado de “A silenciosa ditadura do algoritmo”, de Pepe Escobar (leia aqui). Já o quarto texto (o terceiro foi, na verdade, um gráfico sobre a utilização da internet no Brasil), foi tirado de “Como a internet influencia secretamente nossas escolhas”, de Tom Chatfield (leia aqui).
É tentador o desejo de já partir para abordar as fake news. Mas não se trata disso. O problema é que a maioria dos usuários acredita que as redes sociais (e a internet de um modo geral), representam e refletem de fato a realidade. Se esquecem que vivem em “bolhas virtuais”, com conteúdos selecionados por meio de algoritmos alimentados de inteligência artificial. A mesma que faz com que, nos serviços de streaming, sempre apareçam opções semelhantes ao seu gosto pessoal, mas que também exibem postagens de amigos e familiares com opções políticas diametralmente opostas às suas, gerando as “tretas da internet”.
O tema pode ser subdividido em outras abordagens, como a questão da privacidade online, da alienação, das bolhas virtuais, do avanço da inteligência virtual e big data, da manipulação de informações, sobre a política de uso das ferramentas digitais e até sobre o marco civil da internet, entre outros subtemas. Possíveis soluções? podem ir de mais leis (eu, particuparmente, sou contra) a educação para o uso da internet (sou completamente favorável). Por que ensinar desde cedo? Exatamente para tentar evitar a manipulação. Desconfiar à princípio de tudo o que se publica ou saber que muitas vezes trata-se apenas de um ponto de vista e não do fato em si.
Tendemos a achar que a mídia tradicional é manipuladora, pois depende do filtro e interesses de seus editores, mas achamos que a internet é livre e independente, que os robôs funcionam aleatoriamente ou apenas baseados em nosso histórico de navegação. Ora, não seria nosso histórico de navegação também uma forma de edição, mesmo que involuntária, do que queremos e não queremos ver? É como o neto que pergunta para a avó que veio do interior se teve ditadura no Brasil e ela responde: “Eu nunca fui presa por militares”. Então esse neto chega à conclusão que “se não aconteceu na minha família, logo, não existiu”. Não é porque aparece na sua timeline que é uma tendência e não é porque não aparece que é irrisório. Há vários micro-cosmos online, às vezes se fundindo, às vezes gestando supernovas e outros cosmos…
Remarketing
Isso vale não somente para postagens, mas também (e principalmente) para anúncios. É o remarketing, aquela ação que faz com que você, ao acessar a página de um produto em uma loja virtual, veja aquele mesmo produto sendo anunciado por vários dias em vários banners, em vários sites. O que é muito bom! Por quê? A não ser que você tenha um bloqueador de anúncios instalados no seu navegador (Ad Blocks), fatalmente anúncios serão exibidos pra você. E são eles que pagam o custo dos sites e redes sociais. Sem eles, nós é que teríamos que pagar para usá-los. É o mesmo sistema da TV e do rádio. A diferença é que nós “pagamos” não com dinheiro, mas com nosso tempo navegando e com as postagens e comentários que fazemos, não somente com nossos dados cadastrais. Tudo o que postamos definem nossos interesses. Tudo o que acessamos dizem muito sobre nós naquele momento e são essas informações que são negociadas pelas redes sociais e os anunciantes.
Concluindo (não a reflexão, que vai longe, mas apenas este artigo), o tema é super pertinente não somente para quem fez ENEM, mas para todos nós que acessamos a internet frequentemente, que nos expomos, compartilhamos, comentamos, enfim, geramos dados que são utilizados (manipulados) pelos algoritmos controlados pelas empresas digitais com o objetivo de nos influenciar, seja no comportamento, no pensamento ou na compra. Embora tecnológico e digital, o ambiente é novo, inóspito e ainda selvagem.
Marcelo Sander – @mbsander
Jornalista, especialista em Marketing Político, Gestão de Projetos Culturais e Web Jornalismo. Palestrante e professor de Novas Tecnologias, Marketing Digital, Comunicação Empresarial e Mercado Profissional nas Faculdades Promove. Gerente de Gestão Estratégica e de Resultados da Secretaria Municipal de Orçamento, Planejamento e Tecnologia de Sete Lagoas. Editor do blog www.mercadowebminas.com.br. Com passagens por agências digitais em Belo Horizonte, Governo de Minas, Prefeitura de Sete Lagoas e Câmara Municipal, trabalha com conteúdo web desde 2001.