Setembro chegou e trouxe com ele uma cor vibrante: o amarelo, cor escolhida para representar as ações em prol da vida. Dez de setembro é o dia mundial de prevenção ao suicídio e, mundialmente, movimentos são realizados a fim de conscientizar as pessoas sobre a preocupante realidade desse tema. No Brasil, desde 2014, a campanha Setembro Amarelo busca fomentar a prevenção ao suicídio por meio da informação. Procura envolver toda a população, promovendo durante o mês inteiro espaços para diálogos, debates, reflexões e divulgação do tema.
Dados da Organização Mundial de Saúde mostram que o número de mortes por suicídio em todo o mundo soma mais de 800 mil por ano. Ainda em proporções mundiais, é a segunda maior causa de morte entre jovens na faixa de 15 a 29 anos e para cada um suicídio existem de 10 a 20 outras tentativas (TRIGUEIRO, 2015). No Brasil o número chega a média de 11 mil casos por ano, o que representa cerca de 30 mortes por dia e é a quarta causa de morte entre jovens na faixa etária de 15 a 29 anos (SECRETÀRIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE, 2017).
E por que esse alarmante número de mortes voluntárias? O fenômeno do suicídio é algo complexo, de influencia multifatorial, podendo envolver causas socioculturais, psicológicas, biológicas e ambientais. É importante observar que, relacionado a qualquer um desses fatores, existe uma vulnerabilidade psíquica que precisa ser entendida e trabalhada. Cerca de 90% dos casos podem ser evitados, mas para isso é necessário à aproximação entre a pessoa com comportamento suicida e a rede de ajuda. Mas isso, infelizmente, não acontece com facilidade, devido às barreiras alicerçadas pelo silêncio, estigma e preconceito que envolve não só o tema suicídio, mas também o tema morte.
Vivemos em uma sociedade na qual a morte é colocada como um grande tabu, como um invisível sem voz que paira sobre nós cotidianamente. Sem voz, pois não se fala e não se quer ouvir falar sobre. Mas sim, está escondida, encoberta e disfarçada aos nossos olhos. E quando a questão envolve a tentativa ou o ato voluntário de tirar a própria vida é perceptível uma recusa maior em tratar o tema. Pois aqui temos também a vergonha. O embaraço de olhar para algo que é tido como pecado ou fraqueza.
O Setembro Amarelo vem na contramão desses pensamentos. Ao promover a disseminação de informações voltadas para a prevenção a campanha busca:
– afastar o estigma e facilitar a busca por ajuda: sem a discriminação as pessoas se sentem mais confortáveis para buscar assistência, encorajadas para falar de seus sentimentos. Percebem que não estão sozinhas.
– colocar por terra mitos envolvendo o suicídio: são mitos arraigados em nossa sociedade, tais como “Pessoas que se matam não avisam ninguém” ou ainda “O suicídio é um ato de covardia”, na verdade muitos não falam abertamente sobre o ato, mas transmitem sinais nas falas e comportamentos. E ainda, ao atentar contra a própria vida a pessoa está influenciada pela dor psíquica e visão da realidade distorcida, e não por covardia.
– Tornar pública as formas de ajuda: um olhar sem julgamentos para conhecer os fatores de risco (uso de substância, transtornos metais, sofrimento psíquico, isolamento social, condições de saúde limitantes…), observar os sinais (dinâmica da vida atual da pessoa, falas depreciativas quanto à vida, comportamentos mais isolados, reclusos) e acolher as pessoas, escutando e incentivando a busca por ajuda especialidade (profissionais da área da saúde e rede de apoio à prevenção ao suicídio como o CVV- Centro de Valorização da Vida).
É preciso entender que o suicídio tem relação com o sofrimento .A pessoa vivencia, de forma insuportável, um grande dor. Uma dor no corpo, uma dor na alma. Ao atentar contra a própria vida ela busca findar com o seu sofrimento: sua dor.
Falar sobre suicídio de forma responsável e consciente diminui barreiras e constrói pontes. Uma postura empática e aberta ao dialogo aproxima as pessoas. Ter o conhecimento de como ajudar pode salvar vidas.
Setembro chegou: envolva-se pelo amarelo.
Graduada em Psicologia (FCV), formação em Psicologia Clínica da Obesidade e Emagrecimento (CESDE). Psicóloga Clínica no consultório Vínculos Psicologia Clínica e Saúde.
FONTE:
TRIGUEIRO, André. Viver é a melhor opção: a prevenção do suicídio no Brasil e no mundo. São Bernardo do Campo: Correio Fraterno, 2015.
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA: O suicídio e os desafios para a Psicologia. Brasília: CFP, 2013.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Setembro Amarelo: Agenda Estratégica de Prevenção do Suicídio. Brasília, 2017.
SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE: Suicídio. Saber, agir e prevenir: Boletim epidemiológico. Brasil, 2017.