A expectativa, a concorrência, a cobrança pessoal e familiar são exemplos dos vários fatores que transformam a fase preparatória para Exame Nacional do Ensino Médio, o Enem, em um momento estressor na vida de muitos estudantes que passam também por mudanças em sua rotina diária, cansaço e a temida ansiedade.
A ansiedade é um estado emocional normal, com reações psicológicas e fisiológicas, experimentado por todas as pessoas, em menor ou maior grau, em situações com potencial desafiador ou ameaçador. Em alguns casos a ansiedade atinge níveis patológicos, como no Transtorno da Ansiedade Generalizada (TAG) e Transtorno do Pânico (PA) podendo causar prejuízos social, profissional e pessoal¹.
Em contextos de avaliação como no Enem, a ansiedade em níveis acentuados, tem função adaptativa, pois, mobiliza os candidatos a buscarem uma preparação para enfrentar de forma eficaz essa situação. Assim, eles elegem diferentes estratégias como: aulas particulares, cursinhos, grupos de estudo, revisão de matéria, estudos online… Tudo pensando em melhorar o desempenho para a prova.
Porém, quando a preocupação passa a ser mais presente e desproporcional a “ameaça” da situação futura (no contexto do Enem essa ameaça poderia ser não obter notas altas e decepcionar familiares), a ansiedade torna-se disfuncional, seus efeitos negativos ficam mais intensos e os prejuízos começam a aparecer no dia a dia, como por exemplo: irritabilidade, dores de cabeça, problemas com o sono, dificuldades de concentração, atenção dispersa e lapsos de memória². Todos esses efeitos tem grande impacto na vida acadêmica, prejudicando ou até mesmo impossibilitando a preparação para a prova.
Neste ano, o Enem será realizado nos dias 4 e 11 de novembro e, para manter a ansiedade em níveis mais leves até os dias do exame, o primeiro passo é trabalhar a regulação emocional, controlando o nervosismo, o medo e a insegurança. Uma autoavaliação pode contribuir para essa regulação, pois, ao reconhecer a dedicação nos estudos durante todo o ano, os candidatos podem se sentir mais seguros e confiantes. Num segundo momento a organização da rotina de estudos, um tempo reservado para o lazer e o descanso, noites adequadas de sono e uma alimentação mais saudável também contribuem para o controle da ansiedade.
Em casos mais extremos, quando o candidato não consegue conter essa ansiedade e percebe prejuízos tanto em suas tentativas de estudo quanto na área social e pessoal, a ajuda de um profissional pode ser necessária.
O Enem, assim como outros vestibulares, é um momento muito importante para os estudantes e seus familiares, mas é fundamental buscar um equilíbrio entre o foco nos estudos e a consciência de que a vida não se resume apenas nesse momento. Existe muita vida no agora e uma continuidade após a prova, e tudo isso também precisa ser experienciado e saboreado.
1 KNAPP, Paulo (Org). Terapia cognitivo comportamental na prática psiquiátrica. Porto Alegre: Artmed, 2004.
2 CLARK, David; BECK, Aaron. Vencendo a ansiedade e a preocupação: manual do paciente. Porto Alegre: Artmed, 2014.
Graduada em Psicologia (FCV), formação em Psicologia Clínica da Obesidade e Emagrecimento (CESDE). Psicóloga Clínica no consultório Vínculos Psicologia Clínica e Saúde.