Dizem que os anjos são desprovidos de alma, do livre-arbítrio, que possuem apenas uma aura pulsante. Foram criados para guardar a terra e o céu enquanto seu Pai Celestial descansa em sono profundo. Os anjos possuem um objetivo, uma razão para sua existência. Essa razão permanece única até sua aura se apagar.
Ou melhor, até um deles cair.
Ela era um anjo caído dos sete céus, cansada das nuvens, da passagem das estrelas. Queria sentir a terra sob seus pés, os raios solares em sua face. Queria participar do mundo que guardava, e não apenas ser uma mera expectadora enquanto seres fantásticos, mundanos, embarcavam em aventuras que ela mal poderia imaginar com sua mente angelical.
Ela tinha sim o poder de escolha – escolhera buscar sua alma no amor daqueles que escolhera, que outrora foram julgados como seres profanos, sem valor algum perante a divindade do universo, a atemporalidade dos arcanjos.
Ela escolhera voar por conta própria, em meio aos homens de barro de quem tanto ouvira falar, aqueles a que ela jamais poderia se igualar.
Paula Kilesse cursa Sistemas de Informação e é autora do blog Tempo de Cappuccino, onde escreve poemas e contos baseados (ou não) em sua realidade. A coluna Distopia tem como objetivo expandir seu universo, levar suas histórias para a população da cidade e indicar trabalhos similares ao seu; que destoam do usual.