Não há nada além da escuridão; o ébano da noite, o brilho das gotículas de suor misturando-se ao da lua.
Não havia nada além de fragmentos de sonhos, resquícios de uma vida que talvez nunca tenha existido.
Não há nada além de um passo atrás do outro, nunca rápido o suficiente. O asfalto gelado, as luzes dos carros que não se importam com seus gritos emudecidos, silenciados por suas palavras.
Não há nada além dela, a pele translúcida, seus cabelos voando ao vento, bem à sua frente, impalpável.
Não há nada além dele, correndo, fugindo de seus demônios. Em busca de uma memória, de um final.
Das trevas que percorrem seu coração, que sugam sua alma em busca da luz que lhe resta.
De seu sorriso, do calor que emana.
Corra, ela sussurra.
Mas não há nada além de um ser imaginário refletido no gélido azul de seus olhos, Atlantis.
Paula Kilesse é formada em Sistemas de Informação e autora do conto “Como ser humano, é uma ótima estrela”, publicado pelo 4º Prêmio SESI de Literatura. A coluna Distopia tem como objetivo expandir seu universo e levar suas histórias para a população da cidade.