Durante muito tempo, o câncer foi visto como uma doença que afetava, sobretudo, pessoas mais velhas. No entanto, essa realidade está mudando – e de forma preocupante. Cada vez mais, jovens entre 15 e 39 anos estão sendo diagnosticados com diferentes tipos de câncer, como mama, colo do útero, fígado e intestino. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), mais de 50 mil novos casos são registrados anualmente nessa faixa etária no Brasil. Os números vêm crescendo ano após ano, e esse aumento não pode mais ser ignorado.
Mas por que isso está acontecendo? A resposta envolve uma série de fatores relacionados ao estilo de vida moderno. O aumento da obesidade, o sedentarismo, o consumo excessivo de alimentos ultraprocessados, o tabagismo, o álcool e até mesmo a exposição a substâncias químicas presentes no dia a dia estão entre os principais vilões. A obesidade, em especial, tornou-se uma epidemia. Estima-se que cerca de 1 em cada 5 adolescentes brasileiros esteja acima do peso. O excesso de gordura corporal está associado ao risco elevado de pelo menos 13 tipos de câncer, pois causa inflamações no organismo, desequilíbrios hormonais e alterações no sistema imunológico – tudo isso contribui para o surgimento de células cancerígenas.
Outro ponto importante são os chamados desruptores endócrinos – substâncias químicas presentes em plásticos, cosméticos, alimentos embalados e até mesmo na água que consumimos. Esses compostos podem interferir nos hormônios do corpo, e no funcionamento das células de defesa do organismo, especialmente durante fases críticas de desenvolvimento, como a infância e adolescência. A exposição frequente a esses agentes pode aumentar o risco de cânceres hormonais, como o de mama, útero e ovário.
O consumo excessivo de álcool e cigarro também continuam sendo grandes fatores de risco, principalmente entre os jovens. Além de serem substâncias diretamente cancerígenas, o tabaco principalmente, favorece a infecção persistente pelo vírus HPV – responsável por tumores no colo do útero, boca, garganta, pênis e ânus. Nesse contexto, é fundamental ressaltar o papel das vacinas. A vacina contra o HPV, por exemplo, é uma ferramenta segura e eficaz para prevenir esses cinco tipos de câncer citados. Infelizmente, campanhas antivacina têm desinformado muitas pessoas e colocado em risco a saúde de milhares. Informação de qualidade e baseada em evidências científicas precisa ser valorizada.
A boa notícia é que a prevenção está, em grande parte, ao nosso alcance. Adotar hábitos de vida saudáveis pode fazer toda a diferença. Isso inclui manter uma alimentação equilibrada, rica em alimentos naturais e com o uso moderado dos industrializados – aquele velho conselho de “descascar mais e desembrulhar menos” continua atual. Praticar atividades físicas regularmente, evitar o cigarro e o álcool, usar protetor solar e reduzir o contato com substâncias químicas também são atitudes que protegem a saúde a longo prazo.
Além disso, é essencial manter os exames de rotina em dia. Mesmo os que causam algum desconforto, como a mamografia ou o exame ginecológico, são fundamentais para detectar alterações precocemente, o que aumenta muito as chances de sucesso no tratamento.
É hora de mudar o olhar sobre o câncer. A juventude não está imune a essa doença e, por isso, a informação, a prevenção e o autocuidado devem começar o quanto antes. Fique de olho no seu corpo, busque orientação médica sempre que necessário e compartilhe esse conhecimento com quem você ama. Conscientizar é um ato de amor – e pode salvar vidas.
Dra. Priscilla Rossi Baleeiro Marcos
Ginecologista – CRM-MG 44.478 | RQE 25.092 | TEGO 326/2011
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