Na novela “A Favorita”, da Rede Globo, que acabou recentemente, a personagem Dedina, que cometeu o adultério com o melhor amigo do marido teve um fim trágico. Ela foi expulsa de casa pelo cônjuge e rejeitada pelo amante, que foi perdoado pela noiva. Sem ter aonde ir, Dedina ficou vagando pela cidade, até adoecer e morrer. E o pior, prestes a falecer, a personagem ainda reuniu o amante e o marido traído para pedir desculpas aos dois. Como se a mesma tivesse feito tudo sozinha.
Hoje se assiste no Brasil, uma avalanche de processos impostos por danos morais, ofensa à honra e dignidade. A maioria dos processos por infidelidade é requerida por homens. Fato que poderia ser comemorado pelas mulheres alfas, (nome dado às mulheres de hoje, seguras e independentes) já que isto demonstraria certa fraqueza do machão. No entanto, acredito que essa é só mais uma demonstração de como o mundo continua machista.
Antes, toda mulher, toda esposa (ou pelo menos, grande parte) era traída e todo mundo sabia. Ela era obrigada a aceitar os deleites de seu marido e os “bochichos” da sociedade, já que o adultério por parte do homem era prática comum. Mas, quando a esposa era a autora da traição ou do abandono da casa, esta era vista como “uma qualquer”. Ângela Diniz é prova disso. Após assassiná-la, o seu namorado, Doca Street, ainda foi ovacionado pelo público e ela, achincalhada como símbolo da libertinagem que desonrou o coitado do namorado.
Imagina se há algum tempo atrás, todas as mulheres traídas entrassem na justiça porque tinham sido “cornas”? O Meritíssimo Juiz iria rir da cara delas e, provavelmente, pediria que elas fossem “caçar um tanque de roupa para lavar”. Naquela época, a fofoca da faculdade teria o seguinte desfecho, se tivesse ocorrido o contrário, ou seja, o marido fosse o autor da traição: o corno seria o garanhão e a burra seria a “barraqueira” por ter dado uma bofetada no marido em público.
Mas, ainda bem que os tempos são outros e a sociedade mudou, não mudou? Não. Ela continua machista. Continua sendo ditada e representada pela visão masculina. Até mesmo em uma novela contemporânea, ou em uma fofoca durante o intervalo de aula entre quatro mulheres alfas.