Começando pela prefeitura, eu, como belo-horizontina, tirei minhas próprias conclusões dos dois principais candidatos municipais: Márcio Lacerda (PSB) e Leonardo Quintão (PMDB). O primeiro, empresário desconhecido no início das pesquisas. O segundo, da base do seu partido que começou as pesquisas como segundo colocado, atrás de Jô Moraes.
Márcio Lacerda, como já disse, começou como um desconhecido, um nome pouco visto na política. Apadrinhado pelo governador de Minas Gerais, Aécio Neves e pelo atual prefeito da capital, Fernando Pimentel, através de uma aliança política entre PT e PSDB jamais vista na história e, principalmente, mal vista aos olhos dos filiados mais radicais dos dois partidos. Mas que começou a crescer após depoimentos dos padrinhos nas suas propagandas.
Mesmo com as intenções de voto crescendo, Márcio Lacerda continuou um candidato tímido. Pouco falava, pouco aparecia. Seus programas eram praticamente comandados pelas pessoas que o apoiavam. Próximo ao dia da votação, o candidato abriu uma vantagem absurda frente aos outros, e o clima de “já ganhou” se instalou na cidade. O Márcio desconhecido passou a ser o Márcio do Aécio Neves. E, embora ainda tímido, o que se assistia era um Márcio Lacerda altamente confiante. Tanto, que não comparecia aos debates estudantis e não replicava os e-mails e os boatos (verídicos ou não) sobre o seu envolvimento com o “mensalão” ou a dívida da sua empresa com a prefeitura. Adotando uma atitude blasé, o candidato se posicionava num pedestal ao lado dos dois padrinhos poderosos, sem dar muita importância à ralé.
Leonardo Quintão começou em segundo lugar. Depois, continuou em segundo, mas dessa vez, atrás do candidato do PSB. Se o oponente tinha Aécio e Pimentel, Quintão tinha Hélio Costa, Ministro das comunicações. Pois bem, onde tinha Leonardo Quintão, tinha a imprensa. Este fez questão de aparecer. Sempre presente nos debates estudantis, Quintão adotou a postura de homem do povo e religioso. Sempre falando em Deus, o candidato evangélico levou com ele os indecisos devotos. Pareceu-me que para Quintão (e para a maioria das pessoas) que os eleitores de Márcio Lacerda, eram na verdade, os eleitores de Aécio Neves e Fernando Pimentel e, com isso, justificou aos eleitores que ele mesmo votaria em um dos dois, caso eles se candidatassem, usando um pouco da estratégia do concorrente.
Enfim, dia 05 de outubro. Eleições. As pessoas foram votar e a vitória de Lacerda parecia certa. Ou, no mínimo, um segundo turno com ampla vantagem. Apuração feita e a minha surpresa: Um segundo turno bem apertado, com a vantagem de pouco mais de 2% para o candidato do PSB. Pois então, que venham as campanhas para o segundo turno.
E são nestas que vemos o que realmente acontece. Márcio Lacerda, que antes fazia o tipo “nada me atinge”, viu a coisa feia e começou a rebater as denúncias e boatos e até a transmitir vídeos de Leonardo Quintão e especulações sobre o candidato. Quintão, não menos esperto, continuou fazendo o tipo popular e agora, até popular demais. Outro dia ouvi alguém o chamando de Chico Bento, o personagem caipira de Maurício de Souza, em referência ao seu modo “mineiro” de falar.
Estratégias mudadas ou não, enfatizadas ou esquecidas, o fato é que ainda sobra tempo para as campanhas ao segundo turno, e estas prometem mais algumas lições sobre o comportamento dos candidatos, seus partidos e apoiadores.
Mas, as eleições deste ano não aconteceriam sem os ilustres candidatos à Câmara de Vereadores. O horário político apresentava uma mistura infinita de personagens, podendo dar inveja aos programas humorísticos da televisão. Até quem não gosta de assistir aos programas eleitorais, acabou sentado em frente à TV para ouvir as propostas bizarras dos candidatos. Eu mesma, confesso, só assisti aos programas de vereadores para rir um pouquinho após um dia de trabalho.
Mas para vereador, não tem muito jeito. As pessoas votam mesmo é em conhecidos, ou candidatos de conhecidos. É o morador do bairro, o membro da igreja, o chefe da filha ou quem o namorado apóia.
Concluindo este estudo de comportamento durante as eleições desse ano, falo do eleitor belo-horizontino. Este agiu de forma surpreendente. O mineiro é conhecido como tradicionalista, avesso às novidades e sempre com o “pé atrás”. E é assim que também se viam os mineiros de BH. Estes acabaram mostrando que mais do que se divertir com os programas políticos, seus votos foram pensados e analisados até o último segundo.
Como já havia dito, a vitória de Márcio Lacerda parecia inevitável. Cheguei a ouvir a seguinte frase, às vésperas da eleição: “Vou votar no Márcio Lacerda, que vai continuar o que os dois (Aécio e Pimentel) já vinham fazendo. Pelo menos, eu sei como vai ficar. Vai que muda e piora?”. Pois bem, numa mudança drástica de comportamento, o eleitor belo-horizontino mostrou que aqui, tem gente aberta às coisas novas. Não quero entrar na questão do duelo político entre os dois candidatos, partidos, etc. Mais do que a vitória de um ou de outro, essa mudança de hábito demonstra uma evolução no comportamento típico e pacato do mineirinho da capital.