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Fazer jejum ativa hormônio que estimula fome e impede a perda de peso

Só quem já tentou passar por uma dieta conhece as dificuldades comuns a esse processo. A maior delas não é perder peso no início, mas conseguir manter o ritmo. No entanto, uma pesquisa realizada na Universidade de São Paulo (USP) pode ajudar a vencer esse árduo desafio. Cientistas do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB-USP) descobriram que, durante um período de jejum prolongado, o hormônio do crescimento (GH) age no cérebro estimulando a fome e dificultando a perda de peso. O resultado foi publicado no periódico científico “Nature Communications”.

Restrição alimentar faz o corpo entrar no modo sobrevivência e eleva substância  Foto: Frederico HaikalRestrição alimentar faz o corpo entrar no modo sobrevivência e eleva substância Foto: Frederico Haikal

“Normalmente, o hormônio do crescimento – produzido na hipófise, na base do cérebro – é responsável por agir nos tecidos periféricos, levando o organismo a gastar calorias”, explica Isadora Clivatti Furigo, principal autora do estudo.

O que ela e sua equipe descobriram é que, durante qualquer restrição alimentar, o hormônio do crescimento age de forma contrária: aumentando a sensação de fome e reduzindo o gasto de energia. Como consequência, fica mais difícil perder peso. “O nosso corpo entra no modo sobrevivência. Isso quer dizer que o nível do GH sobe, deixando de influenciar o crescimento, e passando a dizer que precisamos comer e guardar energia”, exemplifica Isadora.

Para o endocrinologista Lício Velloso, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e estudioso dos mecanismos bioquímicos associados à obesidade e ao diabetes, o aspecto mais surpreendente dessa descoberta é a detecção da área exata do cérebro acionada durante esse processo. “Já sabíamos que o GH atuava no cérebro, mas não sabíamos como nem onde. Jamais poderíamos imaginar que essa influência se daria sobre a fome e o gasto energético”, opina.

O experimento. Em um primeiro momento, Isadora injetou o GH em um rato com um tipo de rastreador e identificou a ação dele no hipotálamo do animal (região do cérebro associada também ao controle da fome), especificamente sobre os neurônios AgRP/NPY, que agem em outras áreas do cérebro, induzindo o corpo a buscar alimento. Após 24 horas da aplicação do hormônio, a pesquisadora observou que o rato passou a comer mais e a gastar menos energia.

Com base nessas informações, outras inserções com GH foram feitas em diversos camundongos. “Usamos três diferentes situações – inclusive, uma que se aproximava da realidade humana –, mas, em todas elas, tivemos os mesmos resultados”, afirma Isadora.

Apesar da descoberta, a pesquisadora admite que são necessários mais estudos, o que é reforçado pelo endocrinologista Adauto Ramos, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia – Regional Minas Gerais (SBEM-MG). “Precisamos ampliar nosso conhecimento sobre o sistema nervoso central para melhorar nossa atuação”, diz.

Com a pesquisa, cientistas podem chegar a um medicamento mais eficaz contra a obesidade

Entender como o cérebro regula a fome e o gasto de energia é um dos maiores desafios para a ciência atualmente. Segundo o endocrinologista Lício Velloso, professor da Unicamp, essa compreensão é tão importante que poderia revolucionar os tratamentos principalmente contra a obesidade, problema que atinge quase 20% da população brasileira, segundo dados do Ministério da Saúde.

“Quando falamos dessa regulação cerebral, ainda apresentamos níveis muito preliminares nas pesquisas científicas. Mas, se sabemos o que acontece, quando e como, seremos capazes de trabalhar com tratamentos cada vez mais eficazes contra o ganho de peso. Esse estudo pode ser considerado um passo fundamental nesse sentido”, afirma.

O especialista diz que estudos anteriores não se mostraram tão produtivos, apesar dos esforços. “Nenhum deles conseguiu ser tão específico. Mas a pesquisa da USP tem um potencial diferente, que pode nos ajudar a desenvolver um fármaco mais eficaz, o que não aconteceu até hoje”, pontua.

Com O Tempo



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