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Cultura ainda é para poucos; veja dados do IBGE sobre a presença de equipamentos culturais no Brasil

Não é novidade que, quando o assunto é o acesso democrático à cultura, a imensa maioria da população brasileira enfrenta um cenário que dificulta a busca por um direito garantido pela Constituição. Um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgado nessa quinta-feira (5) mostra que os cinemas estão presentes em apenas 10% dos municípios, enquanto os museus aparecem em 25,9% das cidades e os teatros, por sua vez, em 20%. Com a presença limitada de equipamentos culturais no território nacional, a televisão continua sendo a grande plataforma da população, presente em 97,2% das residências.

TV vem se firmando como principal bem de acesso à cultura — Foto: Andrés Rodríguez / DivulgaçãoTV vem se firmando como principal bem de acesso à cultura — Foto: Andrés Rodríguez / Divulgação

Os dados, no entanto, não causam surpresa ao ator e diretor do Grupo Galpão, Eduardo Moreira. Ele diz que essa é a consequência da falência do Estado na promoção democrática da cultura e que isso dificulta a criação de um público consumidor de arte no Brasil, país que luta há séculos contra graves desigualdades sociais. “Esse levantamento é o reflexo do nosso atraso, da nossa pobreza intelectual. É terrível, mas vamos continuar lutando contra isso”, afirma.

Os números do IBGE foram analisados pelo Sistema de Informações e Indicadores Culturais (SIIC) 2007-2018, e algumas situações devem ser colocadas em contexto. Sobretudo em tempos de crise, a cultura não é a prioridades das famílias brasileiras – aparece em quarto lugar, atrás de alimentação, habitação e transporte.

Com o avanço tecnológico – nos últimos 20 anos, o acesso à internet triplicou –, a forma de se consumirem bens culturais mudou drasticamente. Além da TV, smartphones e serviços de streaming são uma realidade inapelável.

Outro cenário apresentado revela que as livrarias tiveram uma queda notável – de 42,7%, em 2001, para 17,7% em 2018. O escritor Afonso Borges, no entanto, encara os números com naturalidade. “É o reflexo de dois fatores: a falência deste modelo frente à chegada das megastores e a crescente compra via internet”, ele diz. Para Borges, hoje lê-se muito mais que há 20 anos “e em diversas formas, além do livro”.

Desafios

Todo último domingo do mês, o produtor cultural Oderval Júnior organiza uma edição do projeto Noite de Cinema, no bairro Maria Helena, na região de Venda Nova, com a exibição de filmes ao ar livre. Militante pela popularização do audiovisual, Oderval ressalta que a correria do dia a dia está longe de ser simples para quem trabalha no setor.

Ele avalia que o desafio imposto para reverter o cenário é cobrar do poder público o aumento na agenda de políticas públicas para garantir não só o acesso da população aos equipamentos culturais, mas a melhoria da estrutura desses espaços. “Temos que cobrar e nos organizar enquanto sociedade civil”, acredita.

Esferas de governo reduzem os gastos

O Sistema de Informações e Indicadores Culturais (SIIC), divulgado nesta quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontou que todas as três esferas de poder reduziram sua participação de gastos no setor cultural. Em relação a 2011, o total de gastos públicos era de 0,28%, passando para 0,21% em 2018.

No ano passado, o total de gastos públicos no setor cultural, consolidado nas três esferas de governo, foi de R$ 9,1 bilhões, representando aproximadamente 0,2% do total das despesas consolidadas da administração pública. Os municípios são a esfera que mais utilizou seu orçamento com o setor cultural (51,4% do total investido na área), seguidos dos governos estaduais (27,5%) e do governo federal (21,1%).

Raça e região

O setor cultural segue o padrão de desigualdade geral do país. Em 2017, a região Sudeste – que concentra grande parte de bens e equipamentos culturais – concentrava 58,5% dos assalariados nas atividades culturais. O setor tem mais ocupados da cor branca do que pretos e pardos, mas o percentual de negros está aumentando: de 42,3%, em 2014, para 45,7%, em 2018. Entre 2014 e 2018, a participação feminina no setor cresceu de 43,7% para 50,5%.

Com O Tempo



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