Um pai foi levado pela família a um hospital do estado na região Noroeste de Belo Horizonte, inicialmente, com um quadro de diverticulite aguda, que normalmente não é grave, mas demanda cirurgia. Mas, sem anestesistas, os médicos não conseguiram fazer… Depois de quatro dias, o problema foi resolvido. Entretanto, a demora causou outras situações.
Na segunda reportagem da série especial da Itatiaia sobre a crise pela falta desses médicos, pacientes relatam como a preocupação e a angústia marcaram a espera por uma cirurgia, que só pode ser realizada com a assistência do profissional.
Nesta terça-feira (24), a filha – que não será identificada – conta a dolorosa luta para conseguir fazer um procedimento, que se feito na hora certa, não teria deixado o caso tão grave. “Nós recebemos a visita de um cirurgião, que nos disse que ele teria que entrar para o bloco cirúrgico. Mas, essa cirurgia não poderia ser feita. Fui relatada que, aos sábados, não têm anestesista no hospital”, contou.
Com isso, médicos tentaram transferir o paciente para o hospital Júlia Kubitcheck, pois o caso se agravava e a cirurgia deveria ser imediata. “Lá, também, não tinha anestesista. Ele teria que aguardar. E, se ele sobrevivesse, possivelmente, aconteceria uma cirurgia no dia 27 do mês”. Na nova data prevista, o procedimento ocorreu. Mas, a demora já havia causado vários problemas.
“O intestino tinha se rompido dentro do abdômen dele. Ele precisou retirar o intestino inteiro”, completou. Agora, o paciente está em casa, demandando cuidados, e chegou a ficar um mês sem conseguir levantar da cama. Ele vai ter que viver para sempre com uma bolsa de colostomia.
Novos concursos
A Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) diz que, nas últimas semanas, foram feitas diversas convocações e contratações de profissionais. Em 2022, foram feitos 78 processos seletivos para as mais diversas especialidades médicas e ainda tem concurso a caminho.
“O concurso para todas as carreiras da Fhemig, incluindo, médicos anestesistas, está previsto para o primeiro semestre deste ano. Até lá, continuamos realizando os processos seletivos para os contratos temporários. Pela primeira vez, a Fhemig abre credenciamento de médicos para realização de plantões avulsos nos hospitais”, disse a presidente da fundação, Renata Lélis Dias.
Formação de anestesistas
Uma pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com a Estação de Pesquisa de Sinais de Mercado e do Núcleo de Educação em Saúde Coletiva, feita em 2009, mostrava que 30,8% dos anestesistas alegam dificuldade na contratação. Sendo que 23% reclamavam que a remuneração era ruim, 38% reclamavam do uso de outras especialidades na função de anestesista, 23% criticavam a carreira. A pesquisa foi feita em todo o país, em hospitais particulares e públicos.
O coordenador da Associação de Apoio à Residência Médica, Antônio Lages, afirma que, de lá pra cá, as reclamações permanecem. “A gente conta com 43 hospitais que têm programa de formação, formando em torno de 150 profissionais por ano – o que significa 15% do que se forma no Brasil. Então, o profissional existe, mas ele está mal distribuído”, disse.
Burocracias e falta de estabilidade
Burocracias nos concursos, e falta de estabilidade dos processos simplificados, também fazem com que os médicos não procurem atuar na rede pública. “Entre a autorização de um concurso, e a pessoa ser chamada para essa vaga, são três anos. O concurso tem sido cada vez mais raro”, aponta.
Já em relação aos processos simplificados, o especialista aponta a insegurança como motivo da falta de interesse pelos médicos. “Trata-se de um contrato administrativo que tem um tempo determinado, né, em que você não tem direitos trabalhistas, não tem nenhum vínculo. E pior: a partir do momento em que termina este contrato, você não pode ser contratado de novo”, finalizou.
Com Itatiaia