Reconhecidamente, a prática regular de atividade física traz inúmeros benefícios para a saúde e o bem-estar, incluindo a melhoria do condicionamento físico, a redução do risco de doenças crônicas, como diabetes e hipertensão, além de contribuir para o controle do estresse e da ansiedade. Mas será que essa rotina fisicamente ativa também é benéfica para o aumento da disposição e do desejo sexuais? Essa possível relação entre uma coisa e outra é um tema que desperta o interesse de muita gente.
Para o estudante de química João Vitor, 22, por exemplo, não há dúvida: ele crê que as atividades físicas levam, sim, ao aumento do ânimo sexual. Enquanto estava se preparando para entrar em uma academia, ele argumentou que o treino diário promove a ativação de neurotransmissores que contribuem para uma sensação de melhor disposição geral, inclusive para o sexo.
Com a mesma certeza, Laura Alessandra, 19, que cursa biomedicina, concorda que esses benefícios são um tanto óbvios. “Acredito que uma pessoa sedentária, que não pratica nenhum tipo de atividade física, vai ter menos vontade e menos pique para as mais diversas atividades – até para transar”, diz. Ela acredita que a prática esportiva é benéfica também para a autoestima, deixando a pessoa mais confiante para o encontro com o outro.
Menos convicta, a atendente Juscélia da Silva, 22, acredita que as atividades físicas podem, sim, proporcionar mais desejo sexual em alguns, no entanto ela pondera que, em outros, o efeito pode ser outro. “Vai depender de pessoa para pessoa e também do nível de esforço físico envolvido”, sustenta.
Debate. Se o tema gera divergências entre leigos, especialistas também não chegam a um consenso sobre essa possível relação direta entre atividades físicas e desejo sexual.
Especialistas dão conselhos para os cinquentões que querem cuidar da própria saúde sexual
A médica ginecologista-obstetra e sexóloga Adriana Moreira Sad, por exemplo, lembra uma série de fatores que podem contribuir para uma melhor disposição sexual. “Não há uma relação direta entre atividade física e desejo sexual, mas estudos mostram que a prática constante de atividades físicas, em conjunto com uma alimentação saudável e autoconhecimento, pode contribuir para a melhora da saúde do corpo, da circulação sanguínea, do humor e do bem-estar geral da pessoa. Isso pode ser um dos componentes para ajudar a pessoa a ter um desejo sexual mais saudável”, explica a especialista.
No entanto, Adriana ressalta que o desejo sexual não depende apenas da atividade física e pode ser influenciado por muitas outras variáveis, especialmente na relação com o outro. “A intensidade da reação varia de pessoa para pessoa e de contexto para contexto”, pontua.
Reconhecendo que o hábito de ser fisicamente ativo beneficia a nossa saúde em geral, favorecendo a melhora de diversos aspectos da nossa vida, a sexóloga ressalva que, se a prática esportiva fosse o único fator para o aumento do desejo sexual, as academias seriam os lugares mais requisitados do planeta, o que não é o caso.
Por outro lado, o médico endocrinologista Igor Barcelos avalia que a prática de atividades físicas pode, sim, aumentar a disposição e o desejo sexuais. “Quando nosso corpo se exercita, aumentamos a liberação de vários hormônios e neurotransmissores relacionados ao bem-estar, disposição e recompensa”, garante o especialista.
“Liberamos a dopamina, o hormônio da recompensa, quando fazemos atividades que trazem prazer, como sexo, atividade física e comer. Além disso, liberamos a serotonina, hormônio da felicidade e bem-estar, endorfinas que nos trazem sensação de bem-estar e a ocitocina, que leva à ligação das pessoas e ao amor”, cita. Para o endocrinologista, a liberação desses hormônios, a melhora da composição física e o aumento da produção de hormônios como a testosterona – que ele chama de “hormônio do desejo sexual” – tendem a favorecer a busca por sexo.
Barcelos ainda argumenta que pessoas ativas e com maior quantidade de músculos e menor de gordura produzem mais testosterona, além de ter um estado de menor resistência insulínica. Tudo isso, segundo ele, leva a um corpo não inflamado, e, com isso, a orquestra hormonal consegue funcionar em toda a sua plenitude. Além disso, o médico argumenta que pessoas que praticam atividade física regularmente tendem a ter melhor autoestima, o que pode aumentar a busca e a confiança para o sexo.
Mas Barcelos reconhece que essa relação nem sempre será direta, variando de pessoa para pessoa e de contexto para contexto. Em consonância com as ponderações da sexóloga Adriana Moreira Sad, ele indica que a maneira como o desejo sexual se dá depende de vários fatores, como o contexto familiar, a religiosidade e a sociedade em que a pessoa está inserida, assim como os seus costumes. O especialista ainda menciona que atividades muito extremas podem piorar a questão sexual.
As avaliações de Adriana e Barcelos, portanto, convergem quando ambos admitem que a relação entre atividades físicas e o aumento do desejo sexual é complexa e envolve uma série de outros elementos, mas, simultaneamente, sinalizam que a prática esportiva constante pode, sim, contribuir para uma vida sexual mais saudável, desde que acompanhada de outros fatores, como alimentação saudável e autoconhecimento.
Com O Tempo