A expressão ‘pé de areia’ tem tudo a ver com o descanso e os movimentos de lazer que as férias de verão proporcionam, mas também podem servir de alerta para um dos problemas mais comuns dessa época do ano: o Bico Geográfico. Em Matozinhos, pelos menos 30 casos foram registrados no mês de dezembro, todos na quadra de areia do bairro Estação.
“Até dezembro jogávamos vôlei quase todos os dias na quadra. São mais de 30 pessoas e todos pegaram a doença. Começa com um carocinho e depois o local vira uma ferida. O médico disse que se não tratar pode haver complicações”, explicou Victor Michael, morador da Rua Dr. Jurandyr Campos.
O bicho geográfico (larva migrans cutânea) é uma infecção causada pelas larvas de parasitas que vivem no intestino dos cães e gatos. Quando o animal evacua na terra ou areia, os ovos são liberados. Em contato com o solo quente, as larvas se desenvolvem e ficam lá. Quando entram em contato com a pele abrem verdadeiros ‘túneis inflamados’, semelhantes a linhas de um mapa, daí o nome da doença.
“A quadra está sem portão e os animais têm acesso ao local. Ficamos sem saber o que fazer, pois queremos continuar praticando o esporte. O espaço é bacana, há alguns anos foi reformado, mas sem uma providência quanto a isso fica complicado continuar. Não sei se é possível jogar algum veneno na areia para acabar com isso, mas também não adianta deixar a quadra aberta como está. É preciso cercar novamente para que possamos cuidar”, informou Victor.
Em cerca de 75% dos casos a contaminação pelas larvas ocorre nos membros inferiores, como pés e pernas, mas também pode surgir nos antebraços e tronco. Crianças que costumam brincar sentadas na areia podem ser acometidas nas regiões das coxas e nádegas.
Embora a contaminação seja frequente nas praias onde cães e gatos circulam livremente, o parasita pode se proliferar livremente desde que encontre as condições adequadas em qualquer lugar onde esses animais depositem as fezes contaminadas, como por exemplo, gramados e tanques de areia de parques e de escolas.
Respostas da Prefeitura e Associação
A reportagem entrou em contato com a Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Matozinhos para uma reposta sobre a situação. O envio da nota foi realizado através do setor de zoonoses do município, que explicou que a contaminação do solo por bicho geográfico é algo comum em qualquer espaço público, visto que cães e gatos transitam por ele a todo momento e depositam também as suas fezes nesses locais. “Neste caso, não é uma doença de notificação compulsória de objeto da vigilância epidemiológica. A única forma de prevenção é evitar andar descalço nesses locais cuja infestação é comum, como ocorre em praias, por exemplo”.
A Associação de Moradores do Bairro Estação enviou uma nota informando ter tomado conhecimento acerca do problema e que buscará soluções junto à Prefeitura.
Saiba quais os sintomas do Bicho Geográfico
O principal sintoma do bicho geográfico é representando pelas marcas vermelhas deixadas na pele e que sinalizam o caminho da larva. A manifestação desse sintoma pode levar minutos ou até mesmo semanas para ocorrer. Outros sinais são a coceira intensa que piora à noite, linhas tortuosas e vermelhas, inchaço e bolhas.
Não existe transmissão da larva migrans cutânea de uma pessoa para outra. Embora raros, existem casos da doença sujeitos a complicações, já que as larvas eliminam toxinas que podem causar quadros graves de alergia, tosse e falta de ar.
Tratamento
Na fase em que a infecção está ativa, a aplicação de gelo sobre a lesão na pele ajuda a aliviar a coceira e a diminuir o edema. De maneira geral, está estabelecido que a baixa temperatura ajuda a matar a larva. Por isso, há quem defenda o emprego de neve carbônica (gelo seco) e do cloreto de etila como alternativa terapêutica nas infecções pelo bicho geográfico.
Em outros casos, a larva migrans cutânea dispensa tratamento específico, porque as lesões desaparecem espontaneamente. No entanto, não está afastado o risco que possam reaparecer tempos depois. O uso de anti-inflamatórios e antibióticos está indicado quando as lesões dermatológicas provocadas pela migração das larvas são extensas e apresentam sinais de infecção.
Depois de dois ou três dias de iniciado o tratamento, o paciente começa a sentir a melhora dos sintomas. No entanto, a orientação médica deve ser seguida à risca e a medicação mantida até que a infecção esteja completamente debelada.
Com Por Dentro de Tudo