Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira…
§ 3ºA lei estabelecerá incentivos para a produção e o conhecimento de bens e valores culturais.
Caro leitor, seguidores, amigas, amigos, passantes…
Me valho do recorte retirado da constituição, que encabeça minha escrita, como pressuposto de um sentimento nostálgico, desencadeado em minha alma inquieta e inconformada de artista. Vou escrever sobre o pré-carnaval de Sete Lagoas.
Provavelmente minha escrita vai respingar na atual gestão municipal.

Pois bem. Há dez anos que eu não ia ver ou mesmo participar do carnaval de Sete Lagoas. Eu saía com o Bloco Boi da Manta, voltado ao público infantil, cobrindo os quatro dias da festa momesca. Paramos em 2015. Não vou falar do passado. Li, com atenção, as entrevistas do Secretário estadual de Cultura e Turismo comemorando o carnaval de Minas Gerais como destino de foliões de toda parte do Brasil.
Mas, meu foco se ateve aos resultados do Carnaval de Belo Horizonte e o planejamento da administração municipal da capital, através da SECRETARIA DE CULTURA e seus órgãos, para fomentar a folia. Em BH o fomento para as inciativas populares, bloquinhos iniciantes e já existentes, se deu através dos editais de chamamento público amparados por indicadores através de um sistema. SMIIC – Sistema Municipal de Informações e Indicadores Culturais. Afirmo aqui, isso é política cultural aplicada junto ao conselho de cultura, formado pela sociedade civil e prefeitura, demais órgãos da gestão, além de artistas de todos os campos envolvidos diretamente nos trabalhos.

Profissionalização do setor cultural rendendo resultados práticos e concretos ao erário público. Resultados financeiros na casa de bilhões de reais, sem contar outros indicadores de fomento cultural que ainda estão em curso de apuração. Sim, o carnaval, em sua totalidade e potência, desencadeia uma energia contagiante na cena urbana. Mas, a operacionalização dos trabalhos se legitima através do investimento público na arte e cultura local. Com artistas da cidade. Eu sei que tiveram músicos de fora convidados, porém, quem fez e faz o carnaval de BH foram as “prata da casa”. O poder público legitimou a iniciativa popular investindo em organizações populares.

Rainha Conga, abençoando o Boi da Manta para brincar o Carnaval – Crédito: Quintal Boi da Manta
Em Sete Lagoas tivemos o pré-carnaval, iniciativa da prefeitura municipal em sua nova gestão. Uma organização gigante perchada como o maior pré-carnaval do estado. E acho que foi. Não acompanhei os shows. Mas, atendendo ao pedido da Guarda de Moçambique Nossa Senhora Imaculada Conceição, lá do bairro Santa Luzia (Garimpo), através da coordenadora Geovana Francisco e do mestre Saúva, entramos com um pedido na prefeitura para estender a festa até o Beco dos Repolhos.
Sexta-feira de carnaval vestimos o Boi da Manta e fomos com o coletivo de tambores Bantu-Katu, brincar o carnaval. Recebidos pelo Axé Saudade, brincamos e tocamos nossos tambores. Vários artistas e mestres carnavalescos de nossa cidade estavam lá. Funcionários da secretaria de esportes cuidando da organização e logística, nos amparando.
Beco dos Repolhos lotado. Carnaval legítimo de nossa gente, nosso povo. Afetos, abraços, energia boa da cultura de nossa gente.
Cultura, resultado, esperanças…
Paulinho do Boi – Quintal Boi da Manta – março de 2025