O grupo Congadar, que hoje leva o nome de Sete Lagoas por todo o país, tem uma trajetória que começou em 2013, mas foi em 2015 que os integrantes direcionaram seus esforços para criar a mistura única de congado e rock que se tornou sua marca registrada. Recentemente, o SeteLagoas.com.br teve o privilégio de entrevistar essa banda de referência, composta por Carlos Saúva, Filipe Eltão, Wesley Pelé nas vozes e caixas, Giuliano Fernandes na guitarra, Marcão Avellar no baixo, Sérgio DT na bateria e o guitarrista Igor Félix, que atualmente está afastado temporariamente. E para acompanhar de pertinho o trabalho desta banda, siga-os no Instagram @congadar.
A ideia de fundir o congado com o rock não surgiu do nada. Antes da Congadar, existiam dois grupos separados: a Congadar, que se dedicava ao trabalho folclórico, recriando canções da cultura popular, e a banda Ganga Bruta, que tinha lançado dois discos autorais e contribuiu com membros como o guitarrista Giuliano Fernandes e Sérgio DT. A fusão desses dois mundos musicais começou como uma ideia teórica, até que surgiu a oportunidade de se inscrever no Edital para a Virada Cultural de Sete Lagoas, e eles passaram.
“Passamos e aí tivemos que tirar a ideia do papel. Mas já no nosso primeiro encontro, vimos que ia dar liga. Logo nos primeiros ensaios, conseguimos arranjar várias músicas que entraram no primeiro show. A repercussão foi tão boa que decidimos oficializar esse encontro do congado com o rock”, relata o músico Carlos Saúva.
Embora o congado e o rock sejam gêneros musicais distintos, os membros da Congadar veem suas semelhanças, principalmente em suas raízes africanas compartilhadas. A fusão não foi difícil, uma vez que ambas as tradições têm suas origens no continente africano e compartilham estruturas e temas semelhantes. Como explica Saúva: “Tanto o Congado veio com os escravizados nos navios negreiros para chegar em Minas Gerais, quanto os Spirituals foram para as lavouras de algodão ao longo do Mississippi nos Estados Unidos. Dele nasceram o blues, o jazz e o rock. As origens são as mesmas.“
Quando se trata das influências musicais que moldaram o som da Congadar, eles começaram com suas próprias tradições de congado, enriquecendo-as com elementos da música mineira e do Clube da Esquina, especialmente após a entrada de Giuliano Fernandes, que colaborou com Lô Borges por uma década. A beleza da música mineira, representada por artistas como Milton Nascimento, também desempenhou um papel significativo em sua sonoridade.
Várias figuras notáveis, como Maurício Tizumba, Titane, Pererê, e bandas como Chico Science e Nação Zumbi, Cordel do Fogo Encantado e Mestre Ambrósio, influenciaram a Congadar com suas misturas de maracatu, repente e cultura do nordeste.
A dinâmica de composição no grupo é variada. Algumas músicas são releituras de canções tradicionais do congado mineiro, enquanto outras são criações originais. A colaboração é fundamental, com os membros trabalhando juntos para dar vida às músicas.
“No caso do segundo disco, o Chora N’goma, as 10 músicas nos foram indicadas pelos nossos Mestres da Cultura Popular de Sete Lagoas. Eles foram nos indicando quais poderíamos trabalhar, se transformando em uma espécie de curadores”, concluiu Saúva.
Os desafios iniciais de unir o rock ao congado envolviam entender como a bateria e o baixo se encaixariam nas batidas do congado e como ambas as tradições poderiam coexistir harmoniosamente. “Vai além da questão do entrosamento que uma banda precisa ter. É conhecer melhor as nuances de cada gênero, quais eram os espaços que precisavam preencher, as dinâmicas”, informa Saúva, que conclui: “A partir do momento que começamos a entender isso, a música começou a fluir mais facilmente. Mas ainda hoje a gente encara desafios de formar uma identidade que seja só nossa.”
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Além da música, a Congadar incorpora elementos visuais em suas apresentações, como figurinos que homenageiam a cultura afro e performances que destacam a riqueza da ancestralidade afromineira.
A Congadar já lançou três discos, “Retirante” (2019), “Chora N’goma” (2022) e “Morro das Três Cruzes” (2023), e teve a oportunidade de tocar em diversos shows e festivais pelo Brasil. Eles planejam expandir ainda mais seu alcance e levar sua cultura e música para além das fronteiras.
O futuro da Congadar parece promissor, com planos de explorar novos elementos da cultura negra em seus projetos futuros e continuar promovendo a importância da diversidade cultural e do respeito pela ancestralidade. Eles estão determinados a mostrar a beleza e a riqueza de sua cultura e levar essa mensagem para o mundo.
Da redação, Djhessica Monteiro.