A noite de Carnaval de Adriane Mendonça, de 24 anos, se tornou um pesadelo durante uma festa na casa de shows Clube Chalezinho, localizada no Estoril, na região Oeste de Belo Horizonte, no último domingo (19). Enquanto uma vistoria da Prefeitura de BH com a Polícia Militar interditavam o local, ela era assediada por um cliente que estava na fila da chapelaria. “Eu pago 10% a mais do valor que você cobra”, disse ele, antes de encoxá-la sem sua permissão.
Como conta Adriane, ela estava na fila da chapelaria da casa de show para pegar a sua bolsa, quando um homem, que aparentava ter cerca de 58 anos, se aproximou. “Um senhor, um homem mais velho, insinuou que eu fosse uma prostituta. Eu sou uma empresária. Naquele momento eu ignorei, queria pegar a bolsa e ir embora”, lembra. Mas o homem não desistiu.
“Ele me encoxou por trás, encostando todo em mim, e disse que queria meu telefone. Eu avisei para ele sair, que eu era casada”, continua a jovem, que tentou usar a desculpa de um relacionamento para tentar afastar o homem, o que não funcionou. Adriane conta que ficou nervosa por estar sendo tocada e reagiu dando um tapa no rosto do assediador, mas, mesmo assim, ele não cedeu e começou a agredi-la. “Eu só queria que ele parasse, mas ele veio para cima de mim, começou a me bater”.
De acordo com a jovem, no momento da agressão, nenhum segurança apareceu para separar a briga. “A única que me ajudou foi uma amiga minha, ela ficou com machucado roxo nas costas ao tentar me ajudar”, conta. “A polícia estava na casa na hora, para a fiscalização. Eles viraram para mim e falaram que não era para eu abrir Boletim de Ocorrência, porque o homem era de Brasília e não ia dar em nada”, lamenta.
Naquele dia, Adriane saiu do local ainda em choque, acompanhada da amiga, e o Clube Chalezinho foi interditado por não ter o alvará de funcionamento na hora da fiscalização. “Não recebi suporte nenhum, nem do Clube, nem da Polícia. As pessoas separaram o homem e me falaram que eu tinha que tomar cuidado porque ele também foi machucado, como se eu fosse a errada”, desabafa.
A jovem procurou o escritório de Advocacia Especializada, quando foi aconselhada pelo advogado a voltar na casa de shows e recuperar as imagens do assédio. “Eu fui para o Clube, ainda chorando muito, pedir as imagens. Eles simplesmente me ofereceram uma entrada off para a festa de outro dia, uma falta de respeito”, conta.
Adriane negou a oferta e decidiu que iria procurar formas de denunciar o assédio. “Esse tipo de violência acontece com frequência e nada é feito. Não dão valor para nós, mulheres. Eu fui assediada e agredida simplesmente por não querer passar meu telefone e ficar com aquele homem. Isso tem que acabar”, desabafa.
As imagens do assédio, gravadas pela câmera de segurança, estão sendo analisadas pelo advogado e por um detetive. Veja o vídeo:
Vídeo: empresária é assediada por homem em Clube em BH, em baile de Carnaval. pic.twitter.com/e4Olv19KRD
— Sete Lagoas.com.br (@SeteLagoas) February 23, 2023
Para Adriane, o trauma do momento não vai passar tão cedo. “É muito constrangedor, a gente começa a sentir nojo até da gente mesmo”, conta. “Desde então, eu não consigo dormir. Estou dormindo picado, porque toda vez que fecho os olhos tenho a sensação que ele está atrás de mim de novo”, continua.
O que diz o estabelecimento
O Clube Chalezinho, em nota enviada à reportagem na noite desta quarta-feira, disse que lamenta o ocorrido. Também garantiu ter amparado a Adriane de Mendonça e que possui uma equipe técnica treinada para acolher vítimas de assédio. Também diz que investe em campanhas em defesa das mulheres. Veja a nota na íntegra:
O Clube Chalezinho lamenta o acontecido com a jovem Adriane de Mendonça e esclarece que procurou ampara-la desde que tomamos conhecimento do caso.
Nossa equipe é treinada para dar acolhimento total às vítimas de assédio e direcionar os casos à polícia para registro de ocorrência, o que pode ser constatado nas imagens 45 segundos após o fato.
Posteriormente, quando a cliente entrou em contato via telefone para solicitar o ressarcimento do seu ingresso, designamos uma responsável de nossa equipe para acompanhar o caso e fornecemos espontaneamente as imagens das câmeras de segurança para colaborar com as medidas pretendidas pela jovem.
Desde 2019, temos uma campanha ostensiva contra essa prática, com cartazes espalhados por toda a casa buscando a conscientização dos clientes.
Entendemos que tal prática é endêmica em nossa sociedade e deve ser combatida com seriedade e rigor. Estamos à inteira disposição das autoridades para contribuir com a identificação e punição do agressor.
A reportagem entrou em contato com a Polícia Militar (PM), mas não obteve retorno.
O que diz a Prefeitura de Belo Horizonte
“Em relação ao caso citado, a Prefeitura de Belo Horizonte lamenta o ocorrido. É importante ressaltar que os agentes da Guarda Municipal e fiscais não foram acionados ou tomaram conhecimento de qualquer episódio de violência ou importunação ocorrido no estabelecimento durante a ação de fiscalização.
As equipes da Prefeitura foram acionadas devido ao descumprimento das normas, inclusive limite de ruídos. A ação foi realizada com o apoio da Polícia Militar e o estabelecimento foi autuado e multado em R$ 5.685,87. O local continua sendo monitorado pelos fiscais para garantir o cumprimento da legislação urbanística ambiental.”
Da Redação com OTempo