A cotação do dólar em 2024, ajustada pela inflação, superou os valores registrados durante a grave crise econômica e política de 2015 e 2016, que culminou no impeachment de Dilma Rousseff. Embora o valor atual não tenha atingido um recorde histórico real, ele está significativamente acima dos patamares daquele período.
Em setembro de 2015, o dólar nominal alcançou R$ 4,1450. Atualizado pela inflação dos EUA (CPI) e do Brasil (IPCA), o valor seria equivalente a R$ 5,08 hoje. Porém, com a cotação atual de R$ 6,19, a diferença chega a R$ 1,11.
Durante a crise de 2015 e 2016, o dólar registrou uma alta de 62% em um ano, reflexo direto da recessão e das dificuldades econômicas. Em 2024, a valorização foi menor, cerca de 25%, mas o cenário fiscal segue desafiador.
“O câmbio reflete as condições econômicas, mostrando se a situação está boa ou ruim”, explica Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados. “Apesar de não ser uma relação direta, a fragilidade fiscal afeta o câmbio.”
Nos anos de 2015 e 2016, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil encolheu 3,8% e 3,6%, respectivamente, marcando a maior recessão da história recente. Em contraste, o PIB cresceu 3,2% em 2023, e a previsão para 2024 é de alta de 3,49%, segundo o boletim Focus.
A dívida pública brasileira tem crescido mais rapidamente que a economia. Em 2016, a relação dívida/PIB era de 69,8%, enquanto em outubro de 2024 atingiu 77,8%. Projeções indicam que esse índice pode chegar a 84,1% até o final de 2026, intensificando as preocupações fiscais.
Adriana Dupita, economista da Bloomberg Economics, ressalta que a situação atual tem diferenças importantes em relação ao período de Dilma. “Hoje, temos um arcabouço fiscal que não existia naquela época. Ele não é perfeito, mas traz alguma estabilidade.”
Além das dificuldades internas, o dólar está mais valorizado globalmente. Dados do Federal Reserve mostram que a moeda americana está em seu segundo maior patamar histórico, atrás apenas da década de 1980, quando os juros nos EUA chegaram a 20% ao ano.
Gina Baccelli, economista-chefe do Itaú Unibanco, aponta que o crescimento econômico dos Estados Unidos e a manutenção de juros altos têm sustentado o dólar em níveis elevados.
O índice DXY, que mede a força do dólar frente a outras moedas, subiu 6,5% em 2024. Sem cortes significativos nos gastos públicos, economistas preveem que a moeda pode se manter acima de R$ 6, com projeções chegando a R$ 7, segundo o BTG Pactual.
com Bloomberg Economics