A perda de peso geralmente figura entre as metas de um ano que se inicia. Neste 2024, a procura por dietas, academias e estratégias inovadoras para perder peso aumenta nas redes sociais. Entre as influenciadoras, o jejum intermitente ganha destaque. Em resumo, essa técnica envolve períodos em que se deixa de comer. No entanto, a ciência sugere que essa abordagem pode não ser eficaz.
Embora essa prática possa resultar em uma redução na balança, estudos indicam uma maior perda de massa magra (músculo) em vez de gordura, contradizendo as expectativas de um emagrecimento saudável.
Origem da tendência do jejum: O jejum tem sido uma prática recorrente ao longo da história, muitas vezes realizada por motivos religiosos, culturais e espirituais. Nossos ancestrais enfrentavam longos períodos de jejum devido à necessidade, já que tribos caçadoras-coletoras só se alimentavam quando conseguiam caçar ou coletar alimentos. Atualmente, essa realidade não se aplica mais, mas como o jejum tornou-se uma tendência fora do contexto religioso?
Especialistas apontam que o método ganhou popularidade pela sua “simplicidade”. Diferentemente de dietas restritivas com cardápios específicos, o jejum intermitente não exige restrições alimentares, como gorduras, açúcares ou carboidratos. Tudo o que é necessário é um relógio.
Essa abordagem foi adotada por celebridades, desde a estrela pop internacional Dua Lipa até Jade Picon, ex-BBB e influenciadora com milhões de seguidores.
Eficiência do jejum intermitente para emagrecer: especialistas alertam que o volume de pesquisas sobre o assunto ainda é limitado, especialmente a longo prazo. Até o momento, os estudos indicam que o jejum intermitente resulta em perda de peso na balança, ou seja, a pessoa emagrece.
No entanto, descobriu-se que a maior perda ocorre na massa magra, não na gordura, indo na direção oposta de um emagrecimento saudável.
Uma pesquisa publicada em 2020 por cientistas da Universidade da Califórnia na renomada revista Jama International Medicine mostrou que, apesar da perda de peso na balança entre aqueles que praticam o jejum, a maior parte dessa perda era de massa magra, não de gordura.
Um estudo realizado pelo Departamento de Fisiologia e Biofísica da Universidade de São Paulo (USP) chegou a resultados semelhantes. A pesquisa, conduzida em ratos, comparou animais em jejum intermitente com aqueles que tinham alimentação livre. Após 12 semanas, constatou-se uma redução de peso entre os que praticavam jejum, mas com um aumento na reserva de gordura.
Os resultados desse estudo da USP foram apresentados no congresso da Sociedade Europeia de Endocrinologia em Barcelona, em 2018.
Ana Bonassa, responsável pela pesquisa, alerta que, mesmo sendo um estudo com ratos, a análise indica que essa técnica pode não ser a melhor opção para o emagrecimento devido à sua influência no corpo.
A endocrinologista Isis Toledo, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), afirma que, apesar da facilidade de adesão entre os pacientes, o jejum intermitente não se mostra superior às dietas de redução calórica e requer cautela diante da escassez de estudos.
Apesar da falta de eficácia comprovada, o jejum intermitente tem sido adotado em consultórios como tratamento para a perda de peso com base na experiência clínica.
Maria Fernanda Barca, médica e membro da Sociedade Europeia de Endocrinologia (ESE), é uma das profissionais que recomenda essa prática aos seus pacientes.
“O jejum intermitente pode ser interessante porque é mais fácil para o paciente aderir. É uma opção para pessoas que não se adaptam a dietas mais restritivas, pois essas podem afetar a convivência social”, explica Maria Fernanda.
No entanto, ela destaca a necessidade de acompanhamento médico para monitorar se a pessoa apresenta desmaios ou algum tipo de mal-estar durante o período sem alimentação.
da redação com informações do G1