O recente anúncio do atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, do pacote de medidas protecionistas, colocou em xeque o futuro do mais importante e tradicional setor industrial de Sete Lagoas: o siderúrgico. Essas medidas aumentaram a tensão da guerra comercial travada pelo presidente, desde o momento que reassumiu o governo da maior economia mundial.

Dentre as medidas anunciadas, o chamado “tarifaço” terá como objetivo o aumento da alíquota do Imposto de Importação aplicada à importação de todos aqueles países que, segundo o próprio Donald Trump, possui uma balança superavitária com os Estados Unidos, além de injusta.
Nesse sentido, passa a ser adotada uma reciprocidade tarifária, ou seja, para todos os produtos importados de determinado país aplica-se uma tarifa linear de acordo com a relação comercial. Para o Brasil, por exemplo, foi anunciada uma tarifa de 10% para todos os produtos brasileiros que entram nos USA, exceto para o aço e alumínio que, conforme já anunciado anteriormente, teve a alíquota elevada a 25% não só para o Brasil, mas para todos os outros países.
Caso o governo brasileiro não consiga reverter a decisão unilateral dos USA em manter a alíquota de 25% à importação de aço e alumínio, seja por meio de um apelo à Organização Mundial do Comércio (OMC) ou na negociação direta na tentativa de aplicação de cotas tarifárias, pelo menos. Toda a cadeia produtiva do aço será duramente afetada.
Dado que o ferro gusa é uma importante matéria-prima na produção de aço e outras ligas de ferro. A indústria siderúrgica de Sete Lagoas, com sua expressiva capacidade produtiva de ferro gusa no país, poderá ser forçada a rever os contratos firmados para o fornecimento de ferro para a indústria de aço.
Historicamente, Sete Lagoas teve seu auge na produção de ferro gusa, nas décadas de 80 e 90, atraindo trabalhadores de diversas cidades vizinhas, o que ajudou a redesenhar a economia da cidade e, essencialmente, trouxe um novo dinamismo para o comércio local.
Em levantamento feito pelo Ministério de Minas e Energia (MME), a capacidade produtiva em Sete Lagoas chegou a representar 42% de todo o ferro gusa produzido em Minas Gerais e 18% de todo o país, com 21 empresas operando em 40 fornos. Esses números deram a cidade a liderança de produção em Minas Gerais.
Com a medida anunciada pelo Trump, o aço brasileiro que representou quase 15% de todo o aço consumido pelo USA em 2024, sendo para o Brasil, o destino de quase 50% de toda produção exportada. A elevação dessa alíquota, além de tornar o aço brasileiro menos competitivo em relação ao produzido nos USA, aumentar o custo de diversos produtos para o próprio consumidor americano, poderá provocar um efeito econômico na indústria brasileira como um todo. Logo, o reflexo em todas as empresas da cadeia produtiva, entre elas, as localizadas em Sete Lagoas, poderá ser sentido em breve, caso medidas não sejam tomadas pelo governo brasileiro.
Essa preocupação pode também ser observada em notícia do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Sete Lagoas (STIMMMESL) ao abordar as medias tomadas pelo governo americano. Sabe-se que as entidades que representam a indústria do aço já estão em conversa com o governo brasileiro, pedindo diálogo aberto com o governo americano dado à importância dessa parceria para ambas as nações.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
STIMMMESL. Notícias. Disponível em: https://www.sindicatodosmetalurgicosl.com.br/index.php. Acesso em 03 Abr 2025.
MME. Relatório Perfil Ferro Gusa. Disponível em: https://www.gov.br/mme/pt-br/arquivos/relatorio-ndeg59-perfil-do-ferro-gusa.doc. Acesso em 03 Abr 2025
MDIC. Medidas Relativas as exportações de aço para os Estados Unidos. Disponível em: https://www.gov.br/mdic/pt-br/assuntos/noticias/2025/marco/medidas-relativas-as-exportacoes-de-aco-e-aluminio-para-os-estados-unidos-nota-conjunta-mre-mdic-1. Acesso em 03 Abr 2025