O nascimento da ciência, como método racional para explicar o desconhecido, ocorreu no século VI a.C., conforme ensina o filósofo e pensador italiano Emanuele Severino. Entretanto, esse novo método de explicar os fatos, em contraposição ao domínio dos mitos e das crenças, gerou grande polêmica entre os filósofos da Grécia Antiga.

Parte dos filósofos defendia um modelo de escola formal baseado na tradição elucidativa; outra parte, por sua vez, acreditava que a escola formal deveria seguir a tradição da educação. São poucos os livros que relatam esse conflito sobre qual paradigma de conhecimento a escola grega deveria adotar: educação ou elucidação.
Em sentido estrito, a educação pode ser definida como a capacidade das escolas de transmitirem um aprendizado específico ou as técnicas culturais de uma civilização. Em sentido mais amplo, a educação representa o meio formal pelo qual os hábitos, crenças, costumes e valores de uma comunidade são transferidos de uma geração para outra.
Por outro lado, os defensores da escola elucidativa argumentavam que o conhecimento só deveria ser transmitido após ser submetido a uma testabilidade crítica e autocrítica. Acreditavam que nenhum conhecimento pode, prima facie, ser considerado seguro ou democrático, de modo que uma civilização poderia, por meio da educação, transmitir uma forma ideológica de dominação.
Entre os grandes idealizadores da escola fundada na tradição da elucidação, destacam-se Tales de Mileto e Xenófanes, ambos vinculados à Escola Jônica. Esses pensadores sustentavam que a elucidação, diferentemente da educação, deveria cultivar a tradição da crítica e da autocrítica antes que o conhecimento fosse repassado a outros. Acreditavam que o saber, quando não submetido a um rigoroso exame crítico, poderia propagar formas convencionais de dominação por meio da cultura imposta pelos mais fortes e tidos como civilizados.
Em 450 a.C., Péricles de Atenas passou a sustentar que o futuro da Grécia dependeria de escolas fundamentadas na tradição da elucidação. Entretanto, oitenta anos depois, as escolas baseadas na tradição da educação ganharam força e hegemonia em toda a Grécia Antiga. Um dos principais defensores dessa tradição foi Platão, que, influenciado por Sócrates, Pitágoras, Heráclito e Parmênides, sustentou que o conhecimento deveria ser reservado a determinadas camadas da sociedade.
Para o pensador supracitado, nem todos nasceram para ser reis, políticos ou senhores. Algumas raças humanas ou categorias de indivíduos nasceram, segundo Platão, para serem escravos ou servos. Por essa razão, as escolas gregas deveriam transmitir um conhecimento que sustentasse essa condição histórica. Em oposição, Péricles defendia que as escolas gregas deveriam capacitar todo o povo — tanto príncipes quanto servos — com um conhecimento elucidativo, capaz de dotá-los de faculdades críticas individuais.
Depreende-se que o objetivo do conhecimento elucidativo era capacitar o indivíduo a questionar até mesmo o saber transmitido por seus próprios mestres. Já o objetivo do conhecimento fundado na educação era preservar uma ciência voltada à transmissão dos hábitos, crenças e costumes das primeiras civilizações.
Pois bem, esse foi um debate do passado. No entanto, nada nos impede de fazer a seguinte pergunta: na atualidade, nossas escolas, faculdades e cursos de pós-graduação seguem a tradição da elucidação ou da educação? O conhecimento oferecido pelas instituições de ensino contemporâneas permite que seus alunos sejam, de fato, inovadores?