Certa vez, Umberto Eco, famoso escritor italiano, disse: “As redes sociais deram voz a uma legião de imbecis.” É claro que a afirmação supracitada causou um grande rebuliço ao redor do mundo. Muitos saíram em defesa das redes sociais, enquanto outros apresentaram críticas a elas.
Entretanto, o que pretendemos apresentar aqui não é um discurso contrário ou favorável às redes sociais, mas sim um argumento sobre a importância de cada indivíduo “filtrar” as informações telemáticas por meio de suas faculdades mentais: racionalidade, pensamento crítico, argumentação, educação e capacidade de elucidar.
Nos tempos atuais, as pessoas repassam informações recebidas via WhatsApp em questão de segundos. Na maioria das vezes, o indivíduo não se preocupa em pesquisar, questionar ou verificar se a informação é verdadeira ou falsa. Se o conteúdo corresponde aos seus interesses pessoais, já é o suficiente para que, mesmo sendo falso, seja compartilhado com milhares de pessoas.
O compartilhamento de fake news é a face mais deletéria de um povo que carece de educação e racionalidade até mesmo para filtrar uma simples informação. As fake news estão umbilicalmente ligadas à ignorância humana — ou seja, quanto menor a capacidade de raciocínio de um indivíduo, mais ele se torna um fantoche a serviço dos agentes da desinformação.
Contudo, o combate às fake news não se resume à simples distinção entre o verdadeiro e o falso. Se uma informação é comprovadamente falsa, a questão é simples: cabe à pessoa de bom senso não apenas deletá-la, mas também denunciar sua falsidade. Entretanto, quando a notícia é verdadeira, a situação se torna mais complexa — é aí que entra o papel da educação individual em contraponto à ignorância coletiva.
Dito de outra forma: nem tudo o que reluz é ouro, de modo que aquilo que se apresenta como verdade pode não ser verdadeiro. Daí a importância de o indivíduo questionar e analisar criticamente a informação que recebe. Para isso, é imprescindível que o ser humano desenvolva sua racionalidade.
O problema é que os indivíduos não são portadores inatos de racionalidade — ou seja, não nascem com ela. A racionalidade é uma tarefa da humanidade, um processo contínuo e permanente de elucidação, que visa deixar um mundo melhor para as futuras gerações. A educação funciona como uma corrida de revezamento, em que nossos antepassados buscam deixar um pouco mais de conhecimento seguro para seus descendentes. É claro que jamais alcançaremos a verdade absoluta, mas só poderemos nos aproximar dela por meio do conhecimento — nunca pela ignorância.
Depreende-se, portanto, que a finalidade da educação é reduzir nosso grau de ignorância e proporcionar mais segurança epistemológica para os que virão depois de nós. Não é por acaso que a educação é considerada um direito fundamental, essencial para o exercício de outros direitos, como saúde, trabalho, vida e liberdade. A propósito, nenhuma nação do planeta conseguiu elevar o bem-estar e as potencialidades de seu povo senão por meio da educação.
A disponibilidade de uma educação de qualidade é o caminho mais eficaz não apenas contra as fake news, mas também contra qualquer outra forma de dominação já inventada pelo homem. É pelo conhecimento racional que podemos reduzir nosso grau de ignorância sobre determinado assunto.
A ignorância gera o caos e o conflito. A educação, por sua vez, promove o diálogo e o consenso onde antes havia dissenso entre os seres humanos. Ainda que sejam estabelecidos limites às redes sociais, é sempre o indivíduo quem poderá pôr fim e denunciar uma fake news, com base em sua própria racionalidade.
Portanto, ao repassar uma informação falsa como se fosse verdadeira, o indivíduo não contribui em nada para o progresso do conhecimento humano. Pelo contrário: ele gera o caos, provoca o conflito e alimenta a intolerância entre seus semelhantes. Por isso, o problema central das fake news não está nas redes sociais em si, mas na capacidade de cada indivíduo de distinguir e denunciar aquilo que é ignorância daquilo que é conhecimento.