O psicoterapeuta Flávio Gikovate, autor do livro ‘Uma História do Amor… com Final Feliz’ (MG Editores), diz exatamente isso, em uma entrevista para a Marie Claire Online: “’O amor romântico está com os dias contados”. “Ele (o amor romântico) – ciumento, opressivo e sufocante – não tem mais chances de dar certo porque é incompatível com o desejo crescente do individualismo”.
Confesso que só li a entrevista. Não li o livro e nem sei se pretendo ler, portanto, não estou escrevendo para fazer indicação do mesmo. Escrevo porque já faz um tempo, eu tinha percebido essa mudança do amor romântico para o “prático”, mas faltava algo concreto para me embasar. Então, sem querer, li essa entrevista e vi que a minha percepção não estava tão equivocada.
A vida prática tem deixado tudo muito chato, até mesmo o romance. O automatismo das tarefas profissionais é levado para o namoro, que acaba se tornando robotizado. Com a vida agitada de hoje, ninguém tem muito tempo para ficar gastando com essa “besteira” de romance. Um casal se encontra, se cumprimenta, dá um beijinho, senta em frente à TV, (já que ninguém pode perder as notícias do Jornal Nacional) e se despede. Cada um para a sua casa ou os dois dormem juntos, mas cada um no seu canto da cama. Afinal, porque as pessoas têm que dormir de “conchinha”?
Tudo bem, ninguém quer um parceiro (a) que o sufoque ou que dê escândalos porque você está conversando com outra pessoa. Mas um pouquinho de romance, de “breguice”, não faz mal a ninguém, vai?! Para alcançar a tão almejada individualidade de hoje é mesmo preciso acabar com o romantismo?
Flores? Para quê? Elas vão murchar mesmo! Chocolates? Não. Na era do bem estar físico, esse tipo de alimentação é proibido. Um final de semana fora? Bobagem. Cada um tem a sua casa. Podem passar o fim de semana ali mesmo. É bom que se enjoar, o caminho de volta é mais curto.
O romance numa relação não implica necessariamente que as pessoas tenham que ficar grudadas ou pensando uma na outra todo o tempo. Claro que tem alguns exageros. Aqueles que têm vontade de morrer todos os dias pela pessoa amada. Mas para um respeitar o espaço do outro, não quer dizer que um casal amoroso tenha que se transformar em pessoas secas, automáticas e práticas. Acho que o individualismo citado pelo psicoterapeuta nada mais é do que uma forma de dizer o quanto as pessoas estão egoístas a ponto de fazerem somente o que elas querem e como forma de legitimar esse egoísmo, o jeito é induzir o parceiro a fazer o mesmo. Dando início assim, ao tal amor individualista.
Mas se você ainda é uma das pessoas que acredita no romance, é melhor fazer um estoque com todos os filmes melosos e não jogar os livros de José de Alencar ou de Joaquim Manoel de Macedo fora. Porque, daqui uns dias, o individualismo tomará conta de todas as relações e o único romance do qual se terá conhecimento será esse dos livros e filmes.