O Ministério da Saúde adotou uma abordagem peculiar em sua mais recente campanha sobre cuidados pós-parto, utilizando uma linguagem neutra que evita as palavras “mulher” e “mãe”. Em vez disso, a campanha faz referência ao “corpo de quem pariu” ou à “pessoa que pariu”, segundo a chamada “ideologia de gênero” e a busca por neutralidade na linguagem.
Essa escolha de linguagem reflete uma perspectiva ideológica mais radical, onde mulheres biológicas transsexuais, que se identificam como homens, são tratadas como tal. Nesse contexto, a simples suposição de que apenas mulheres podem ser mães é considerada “transfobia”.
Ao incorporar esse discurso ideológico em textos oficiais, o governo federal levanta questionamentos sobre como está sendo seguido o princípio da impessoalidade na administração pública. O Artigo 37 da Constituição Federal estabelece que a administração pública direta e indireta deve seguir princípios como legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.
Eli Vieira, biólogo geneticista e pesquisador, destaca que a maioria dos transexuais verdadeiros, diagnosticados com disforia ou incongruência de gênero, não se preocupa com esse tipo de controle da linguagem. Ele ressalta que um Ministério da Saúde deveria se concentrar em aspectos médicos ainda pouco compreendidos, como os efeitos da terapia hormonal cruzada em homens trans que engravidam.
A publicação gerou críticas nas redes sociais, incluindo de perfis que normalmente aderem à narrativa petista que busca criminalizar opositores com o uso de termos neutros.
Mesmo entre os críticos do conservadorismo, como o professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Wilson Gomes, houve condenação à decisão do Ministério da Saúde. Gomes afirmou que o governo “cedeu completamente ao lobby identitário”.
“O governo decidiu ceder completamente ao lobby identitário (exceto quando o interesse político de Lula se sobrepõe). Decidiu que não precisa considerar o que acha ou pensa qualquer outro grupo. Pergunto: se não houvesse o bolsonarismo e o risco de B voltar, em que ponto estaríamos?”, escreveu o professor na rede social X.
O professor e defensor da causa pró-vida, Francisco Razzo, chamou a atenção para a deturpação deliberada da linguagem promovida pelo governo em prol do “comprometimento com as ideologias neocoloniais das políticas identitárias”.
“A ‘pessoa que gesta’ se chama ‘mãe’. Não há ideologia no mundo que possa mudar o valor de verdade e o significado desta belíssima palavra da língua portuguesa. A propósito, em latim, ela é linda: ‘mater’, que está na raiz de inúmeras outras palavras: ‘maternidade’, ‘matriarca’, ‘matrimônio’ e ’matriz’, por exemplo. Ao pesquisar outras raízes etimológicas, encontrei uma variedade incrível para ‘mãe’ em línguas africanas: ‘Mama’, em suaíle; ‘Umama’, em zulu; ‘Maame’, em acã. Mas nada se compara a ‘Amai’, em xonas. No Brasil, a diversidade linguística dos povos originários é imensa. Para ‘mãe’, particularmente, gostei de ‘sy’. O atual governo, que afirma preservar a memória dos povos marginalizados pela opressora cultura ocidental, adotou o termo ‘pessoa que gesta’ em substituição a ‘mãe’, em virtude de seu compromisso com as ideologias neocolonialistas das políticas identitárias”, escreveu Razzo na rede social X.
Após a repercussão negativa, o Ministério da Saúde fez outra publicação sobre o tema, em que usa o termo “mãe”, porém, a publicação anterior permanece no ar.
da redação com O Antagonista e Gazeta do Povo