Mineira é resgatada após 9 meses em situação análoga à escravidão, no Mato Grosso do Sul
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"Eu trabalhava de manhã, de tarde e de noite, 24 horas. Passava, lavava, fazia uns trem lá, limpava a casa inteira e ela não me deu nenhum centavo".
O desabafo é da empregada doméstica Cíntia Domingos, de 34 anos, que ficou trabalhando em uma casa em Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, sem receber nada. De acordo com a Polícia Civil, ela estava em situação análoga à escravidão em Campo Grande (MS).
"[Eles me tratavam] que nem um cachorro, que nem um lixo. Eu estava sendo como um escravo deles lá. Eles ficavam me segurando, não deixavam eu sair, não deixavam ir para a igreja. A hora que eu saía e falava que ia pra igreja, ela me seguia. Ela pegava o carro e me seguia. Ela mandava eu entrar pra dentro do carro e trazia pra casa dela de volta", revela Cíntia sobre o tratamento dado pelos patrões.
A mãe dela, Valdete Domingos, pediu por justiça. "Um absurdo, um cúmulo que a pessoa tirar um ser humano pra fazer o que ela fez não está normal isso aí. Ela tem que pagar os erros que ela fez".
Cíntia, que mora em Mateus Leme, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, foi resgatada depois de passar nove meses em situação semelhante à escravidão no Mato Grosso do Sul.
"Tanto a autora quanto o filho da autora, que teriam uma participação no crime, já foram identificados pela delegacia especializada lá em Campo Grande, mas eles não foram localizados pra serem ouvidos. Considerando a natureza do crime, a matéria, a investigação é de atribuição da Polícia Federal. Então a delegacia do Mato Grosso do Sul já enviou o procedimento para a Justiça Federal e comunicou também à Justiça do Trabalho", explica a delegada Ligia Barbieri Mantovani.
As investigações
Segundo as investigações, a vítima foi levada para Campo Grande por uma idosa de 70 anos, para quem a mãe dela trabalhou durante alguns anos, para trabalhar na capital sul-mato-grossense.
Ela era obrigada a realizar serviços domésticos sem remuneração, comia restos de comida e era proibida de manter contato com outras pessoas e de se locomover, de acordo com a delegada.
A mulher permaneceu nesta situação por cerca de nove meses até que, no dia 21 de março, conseguiu fugir da casa, onde era mantida em cárcere, e foi encontrada na rua pedindo socorro. Ela recebeu ajuda de uma igreja, que fez contato com a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher em Campo Grande. A unidade acionou a Delegacia de Polícia Civil em Mateus Leme.
“Assim que soubemos, fomos ao endereço da mãe da vítima e, após confirmarmos os fatos, verificamos que procediam as informações prestadas. A mãe da vítima somente registrou um boletim de ocorrência em fevereiro deste ano e, ainda assim, contendo informações muito vagas, que não sinalizavam crime. Ela não falava em desaparecimento, apenas que a filha não fazia contato há muito tempo e que não sabia do paradeiro dela”, conta Ligia Mantovani.
Após um trabalho integrado das polícias dos dois estados, a vítima voltou a Minas Gerais nesta segunda-feira (29). Ela desembarcou no aeroporto em Confins, na Região Metropolitana, e foi levada para uma unidade de pronto atendimento de Mateus Leme.
Com G1