Farmácia em SP vende falsa vacina por R$ 100 para imigrantes que 'trata covid'
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Uma farmácia de São Paulo que estava vendendo o que apresentava como uma "vacina para o tratamento da covid-19" foi alvo de uma operação policial nesta segunda-feira (12/7).
Imagens gravadas pela BBC com uma câmera escondida mostraram que as doses eram aplicadas ao custo de R$ 100 dentro da Drogaria Diamante, na zona norte de São Paulo.
Nas cenas, vários pacientes bolivianos — incluindo uma grávida e uma idosa — são atendidos na farmácia por um homem de avental branco.
Um repórter da BBC esteve no local e, dizendo que havia tido covid-19 e relatando sintomas da doença, foi aconselhado a tomar a "vacina" (leia mais abaixo).
Alguns pacientes que receberam o falso imunizante foram hospitalizados em estado grave com sintomas de covid-19, e uma mulher acabou morrendo vítima da doença, segundo o atestado de óbito obtido pela BBC.
Não existem vacinas para tratar a covid-19. As vacinas oficiais ajudam a prevenir a doença.
Funcionários da farmácia foram levados à delegacia para prestar depoimento.
A BBC tentou contato com a Drogaria Diamante para que ela se posicionasse sobre a gravação e a vistoria, mas o estabelecimento fechou as portas e não atendeu os telefonemas até a publicação desta reportagem.
Muitos clientes da farmácia vivem nos seus arredores. A loja fica no nº 2651 da avenida Alberto Byington, na Vila Maria Alta, zona norte da capital paulista.
Embora o acesso à farmácia seja livre, o principal público do estabelecimento são imigrantes da Bolívia — estima-se que entre 100 mil e 300 mil vivam em São Paulo, muitos em situação vulnerável por conta da condição migratória irregular.
Imigrantes podem tomar vacinas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), inclusive contra a covid-19. A Drogaria Diamante, porém, não está listada entre os pontos oficiais de vacinação em São Paulo.
'Detalhes só pessoalmente'
A BBC News Brasil telefonou ao local na semana passada após receber a informação de que pacientes com covid-19 haviam sido internados dias depois de terem sido atendidos na farmácia, onde teriam recebido a "vacina" que supostamente trataria a doença.
Uma dessas pessoas, uma mulher boliviana de 35 anos, teria visitado a farmácia por vários dias seguidos para realizar "tratamento" para covid-19, o que incluiu a aplicação da "vacina" e gastos de cerca de R$ 2 mil.
Em 18 de junho, ela deu entrada no Hospital Geral Vila Penteado, na zona norte, com mais de 50% dos pulmões comprometidos, segundo o laudo de um exame obtido pela BBC News Brasil. A mulher foi intubada e morreu 12 dias depois, em 30 de junho, deixando três filhos pequenos.
O atestado de óbito aponta como causa da morte "insuficiência respiratória aguda/infecção por coronavírus - covid-19".
Na conversa telefônica, um atendente na drogaria confirmou a aplicação de "vacinas para tratamento de covid-19", mas disse que mais detalhes só poderiam ser obtidos presencialmente.
A BBC News Brasil então visitou a farmácia com uma câmera escondida na última quarta-feira (7/7). A drogaria fica em uma rua movimentada, com restaurantes, lojas e supermercado.
Falando espanhol e se passando por um imigrante, um membro da equipe se dirigiu ao homem de avental que atendia pacientes atrás do balcão, dizendo que havia tido covid um mês antes e que estava sentindo dor de cabeça e dificuldade para respirar.
O avental do atendente tinha na lateral um logo com a inscrição "Complexo Hospitalar Mandaqui", um hospital público de São Paulo.
Após analisar as imagens feitas pela BBC, o hospital disse que o homem não trabalha lá e que o logo bordado em seu avental não é usado desde 1997.
Além dele, só havia na farmácia no momento da visita outra funcionária, que cuidava do caixa. Ela e o homem de avental falavam entre si e com os clientes em português.
Com Estado de Minas