Secretário do Ministério da Saúde, Wanderson de Oliveira pede demissão
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O secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Wanderson de Oliveira, pediu demissão na manhã desta quarta-feira (15). Ele é apontado como um dos principais formuladores da estratégia do Ministério da Saúde para enfrentar o novo coronavírus (Covid-19) e vinha se queixando a colegas sobre o discurso do presidente Jair Bolsonaro, contrário ao isolamento social mais amplo. A informação foi confirmada em nota pela própria pasta.
O adeus de Wanderson ocorre em meio à pandemia de coronavírus (Covid-19) e da pressão sobre seu chefe imediato, Luiz Henrique Mandetta. Ao lado do ministro, ele vinha recebendo destaque nas entrevistas sobre o enfrentamento ao patógeno.
Em carta enviada mais cedo a colegas, Oliveira afirma que entregaria o cargo junto da saída de Mandetta, mas antecipou o pedido de demissão. O epidemiologista afirmou a colegas que indicou para seu cargo, interinamente, Gerson Pereira, atual diretor do departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. “Ele é um profissional excelente e vai dar seguimento a tudo que estamos fazendo”, escreveu Oliveira. O Ministério da Saúde não informou quem assumirá a secretaria.
Na carta enviada a colegas nesta quarta-feira (15), Oliveira afirma que teve reunião com Mandetta e que “sua saída estava programada para as próximas horas ou dias”. Oliveira diz que até uma demissão de Mandetta pelo Twitter pode ocorrer. “Só Deus para entender o que querem fazer”, completou.
O secretário é apontado como um dos principais mentores da estratégia de combate ao novo coronavírus no governo. Ele já havia dado sinais de retirada ao distribuir ontem a colegas um relatório sobre a sua gestão.
A primeira passagem de Oliveira pelo Ministério da Saúde ocorreu ainda em 2001, no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Doutor em epidemiologia, ele é servidor do Hospital das Forças Armadas e têm experiência internacional em investigação de surtos, como da Covid-19. O ex-secretário é tido como referência mundial em estudos sobre zika vírus.
Mandetta avisou à equipe que deve demitido pelo presidente da República, Jair Bolsonaro. A data da exoneração não é certa, mas, em plena pandemia da Covid-19, o clima é de despedida entre funcionários da pasta.
Também não está confirmado o sucessor a Mandetta. Uma solução provisória, segundo integrantes do governo, seria colocar o “número 2” do ministério, João Gabbardo, no cargo de ministro. A leitura é a de que a troca seria menos traumática para o momento que apostar no deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), que é radicalmente contra a estratégia de isolamento social para combater a doença, como hoje defende o ministério.
Na semana passada, em entrevista na qual revelou que auxiliares chegaram a limpar suas gavetas no gabinete achando que ele seria demitido naquele dia, Mandetta afirmou que, caso fosse embora, seu time sairia junto. “Aqui nós entramos juntos, estamos juntos, e, quando eu deixar o ministério, a gente vai colaborar de outra forma com a equipe que virá. Entramos juntos e vamos sair juntos”, afirmou o ministro.
Estratégia contra o coronavírus opõe ministro e presidente
Desde o início da crise do coronavírus, ministro e presidente têm se desentendido sobre a melhor estratégia de combate à doença. Enquanto Bolsonaro defende flexibilizar medidas como fechamento de escolas e do comércio para mitigar os efeitos na economia do país, permitindo que jovens voltem ao trabalho, o ministro tem mantido a orientação da pasta para as pessoas ficarem em casa. A recomendação do titular da Saúde segue o que dizem especialistas e a Organização Mundial da Saúde (OMS), que consideram o isolamento social a forma mais eficaz de se evitar a propagação do vírus.
Ministro e presidente também têm divergido sobre o uso da cloroquina em pacientes da Covid-19. Bolsonaro é um entusiasta do medicamento indicado para tratar a malária e que tem apresentado resultados promissores contra o coronavírus. Mandetta, por sua vez, tem pedido cautela na prescrição do remédio, uma vez que ainda não há pesquisas conclusivas que comprovem sua eficácia contra o vírus.
As últimas atitudes do ministro elevaram a temperatura do confronto e, na visão de auxiliares, podem acelerar sua saída da equipe. O estopim da nova crise foi a entrevista dada por Mandetta ao programa “Fantástico”, da Rede Globo, na noite de domingo. O tom adotado pelo ministro foi considerado por militares do governo e até mesmo por secretários estaduais da Saúde como uma “provocação” ao presidente.
Nessa terça, 14, em entrevista da estreia da série “Estadão Live Talks”, o vice-presidente Hamilton Mourão afirmou que Mandetta “cruzou a linha da bola” quando disse, no domingo, que a população não sabe se deve acreditar nele ou em Bolsonaro. “Cruzar a linha da bola é uma falta grave no polo. Nenhum cavaleiro pode cruzar na frente da linha da bola”, explicou o vice. “Ele fez uma falta. Merecia um cartão”, continuou Mourão.
O ministro admitiu a auxiliares ter cometido um erro estratégico e que tentaria nos próximos dias sair do foco da crise. Auxiliares do presidente observam que Bolsonaro só não dispensou o ministro ainda porque faz um cálculo pragmático.
Pesquisas mostram que Mandetta, hoje, é mais popular que Bolsonaro e que sua demissão, neste momento, poderia agravar a crise. Por isso, a solução caseira, de manter Gabbardo no comando da pasta, passou a ser cogitada.
Com O Tempo