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Tamara Lima

O Machismo na era da mulher alfa

  • Categoria: Tamara Lima
 
Mais uma roda de fofoca na faculdade entre quatro alunas e uma colega conta que a esposa de um conhecido estava traindo-o com o sócio, quando foram flagrados aos beijos em um bar de Belo Horizonte. O que se segue é a descrição de como o marido deu um tapa na cara da esposa e os comentários acerca do caso. Num misto de sarcasmo e indignação, uma das opiniões emitidas foi que a mulher, além de burra, (pois traía o marido em público) mereceu o tapa.

Na novela “A Favorita”, da Rede Globo, que acabou recentemente, a personagem Dedina, que cometeu o adultério com o melhor amigo do marido teve um fim trágico. Ela foi expulsa de casa pelo cônjuge e rejeitada pelo amante, que foi perdoado pela noiva. Sem ter aonde ir, Dedina ficou vagando pela cidade, até adoecer e morrer. E o pior, prestes a falecer, a personagem ainda reuniu o amante e o marido traído para pedir desculpas aos dois. Como se a mesma tivesse feito tudo sozinha.

Hoje se assiste no Brasil, uma avalanche de processos impostos por danos morais, ofensa à honra e dignidade. A maioria dos processos por infidelidade é requerida por homens. Fato que poderia ser comemorado pelas mulheres alfas, (nome dado às mulheres de hoje, seguras e independentes) já que isto demonstraria certa fraqueza do machão. No entanto, acredito que essa é só mais uma demonstração de como o mundo continua machista.

Antes, toda mulher, toda esposa (ou pelo menos, grande parte) era traída e todo mundo sabia. Ela era obrigada a aceitar os deleites de seu marido e os “bochichos” da sociedade, já que o adultério por parte do homem era prática comum. Mas, quando a esposa era a autora da traição ou do abandono da casa, esta era vista como “uma qualquer”. Ângela Diniz é prova disso. Após assassiná-la, o seu namorado, Doca Street, ainda foi ovacionado pelo público e ela, achincalhada como símbolo da libertinagem que desonrou o coitado do namorado.

Hoje, a mulher alfa não aceita ser somente a coitadinha traída ou ser vista como a adúltera libertina. Ela se igualou ao homem quanto à traição, casos extraconjugais e direitos na relação. Com isso, os homens, ofendidos com a traição, entram na justiça por ganharem um belo par de chifres das mulheres que não aceitam mais ser julgadas moralmente pelos seus atos e que durante muito tempo, tiveram que suportar essa situação.

Imagina se há algum tempo atrás, todas as mulheres traídas entrassem na justiça porque tinham sido “cornas”? O Meritíssimo Juiz iria rir da cara delas e, provavelmente, pediria que elas fossem “caçar um tanque de roupa para lavar”. Naquela época, a fofoca da faculdade teria o seguinte desfecho, se tivesse ocorrido o contrário, ou seja, o marido fosse o autor da traição: o corno seria o garanhão e a burra seria a “barraqueira” por ter dado uma bofetada no marido em público.

Mas, ainda bem que os tempos são outros e a sociedade mudou, não mudou? Não. Ela continua machista. Continua sendo ditada e representada pela visão masculina. Até mesmo em uma novela contemporânea, ou em uma fofoca durante o intervalo de aula entre quatro mulheres alfas.
 
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