Cigarro eletrônico causa tipo de queimadura química no pulmão
- Categoria: Brasil
Nos Estados Unidos, neste ano, foram registrados 805 casos de doenças pulmonares relacionadas ao uso de cigarro eletrônico e 12 mortes, mas as causas exatas para as ocorrências permanecem um mistério para médicos e pesquisadores.
Nesta semana, um estudo publicado no “The New England Journal of Medicine” colocou mais dúvidas sobre o que está por trás das doenças pulmonares causadas pelo “vaping” (como é conhecido o ato de tragar nos aparelhos). O estudo analisou a biópsia dos pulmões de 17 pacientes com suspeita ou confirmação de danos relacionados ao consumo.
Nenhum deles tinha resíduo de óleos, o que coloca em xeque uma das principais frentes de investigação sobre os malefícios dos aparelhos: a de que causariam pneumonia lipoídica — que ocorre quando a pessoa aspira material gorduroso.
Segundo os pesquisadores, os danos notados lembram queimaduras químicas. “Eles parecem o tipo de mudança que você espera observar em um trabalhador industrial desafortunado que esteve em um acidente na indústria, em que um grande barril de químicos tóxicos foi derramado, e a pessoa foi exposta aos vapores tóxicos no ar”, explicou o patologista Brandon Larsen, um dos autores, ao “The New York Times”.
O estudo associa o uso dos cigarros eletrônicos à pneumonite química, causada pela inalação de substâncias tóxicas.
Incerteza
A indústria anuncia os cigarros eletrônicos como uma alternativa mais saudável do que o cigarro tradicional.
A arquiteta Cristiana*, 25, fuma desde os 18 e, neste ano, decidiu consumir cigarros eletrônicos em vez dos de palha durante a semana, depois de ler e assistir a vídeos de empresas fabricantes e sites especializados em fumo, que anunciavam suas vantagens. “Tudo o que eu vi dizia que faz bem menos mal”.
Para alguns médicos, o número crescente de casos clínicos ligados aos aparelhos contradiz essa narrativa. “Não se sabe quais males eles vão trazer no futuro, podem ser diferentes daquelas do cigarro tradicional. Eles não têm monóxido de carbono, que surge quando se acende o cigarro, mas têm várias outras substâncias tóxicas”, diz a pneumologista Maria das Graças Rodrigues de Oliveira, da Comissão de Prevenção ao Tabagismo da Associação Médica de Minas Gerais.
No Brasil, a comercialização e a propaganda de cigarros eletrônicos são proibidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas, ainda assim, os aparelhos são encontrados à venda.
No fim de setembro, a agência anunciou que vai monitorar ocorrências de doenças relacionadas ao “vaping” no Brasil, a partir de notificações de instituições de saúde.
* Nome fictício
Nos EUA
Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) dos EUA analisaram casos de 514 pacientes com problemas pulmonares associados ao “vaping” e descobriram que substâncias presentes na maconha têm um potencial efeito agravante nas doenças.
Em torno de 77% deles usavam cigarros que contêm THC (liberado em vários estados norte-americanos), enquanto 16% utilizavam aparelhos que continham exclusivamente produtos à base de nicotina. Enquanto as investigações sobre os riscos dos cigarros eletrônicos avançam, o órgão indica que a população não faça uso dos aparelhos.
Em julho, São Francisco, na Califórnia (EUA), tornou-se a primeira cidade norte-americana a banir a comercialização. O presidente dos EUA, Donald Trump, propôs que aparelhos com sabores sejam proibidos no país para coibir o uso entre adolescentes.
Com O Tempo