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Perdas humanas e ambientais: tragédia da Vale em Brumadinho completa uma semana

“O sofrimento é em dose homeopática.” A frase do enfermeiro Jairo Oliveira Corrêa, do Posto de Saúde de Parque da Cachoeira, uma das comunidades mais atingidas pela lama do rompimento da barragem do Córrego do Feijão, obviamente não se refere ao volume, mas ao ritmo de conta-gotas com que o sentimento se espalha entre moradores e envolvidos no socorro às vítimas da catástrofe. Uma dor que retrata bem como foi a primeira semana na cidade castigada por aquela que já é a pior tragédia humana da história da mineração no país, que chegou nessa quinta-feira (31) a 110 mortes confirmadas, e tende a ultrapassar as três centenas.

Dimensão das equipes em meio ao mar de destruição mostra as proporções da catástrofe. Número de corpos recuperados chegou ontem a 110.  - Foto: Túlio Santos/EM/DA PressDimensão das equipes em meio ao mar de destruição mostra as proporções da catástrofe. Número de corpos recuperados chegou ontem a 110. - Foto: Túlio Santos/EM/DA Press

Já as perdas, de vidas e materiais, e a contaminação vieram em escala industrial. A mancha de lama de restos de mineração lançados no meio ambiente não para de avançar pelo Rio Paraopeba. Uma alta concentração de metais pesados foi confirmada em boletim divulgado pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), após monitoramento da qualidade dos recursos do rio, produzido com a Agência Nacional de Águas (ANA), Serviço Geológico do Brasil (CPRM) e a Copasa desde o desastre, ocorrido na sexta-feira passada.

As maiores concentrações verificadas no Paraopeba após a contaminação com a lama de rejeitos de minério foram de chumbo total e mercúrio total, de 21 vezes acima do limite permitido pelas normas ambientais. Também foi constatada a presença no rio de outros metais, como níquel, cádmio e zinco, acima dos valores considerados toleráveis. Já o Corpo de Bombeiros garante que, ao contrário do que sustentam mensagens que circulam em grupos de mensagens via celular, não há contaminação da água por césio, elemento radioativo.

Diante do estudo feito pelo Igam, ANA e Copasa, o governo do estado alertou que a água do manancial “apresenta riscos à saúde humana e animal” e não deve ser consumida em estado bruto. A Defesa Civil estadual atestou que nenhuma cidade do estado está sujeita a cortes de abastecimento, e que municípios que eventualmente façam captação no Paraopeba recorrerão a fontes alternativas enquanto os parâmetros estiverem alterados.

Já o abastecimento de pessoas e comunidades que usavam diretamente a água do rio deve ser suspenso de imediato. Para essas pessoas, o estado deve garantir o fornecimento com a ajuda de 50 caminhões-pipa e orientações de 40 técnicos da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater). O governo estadual informou ainda que, diante dos resultados e, “por segurança à população”, “deve ser respeitada uma área de 100 metros das margens” do Paraopeba. “O contato eventual não causa risco de morte. E para os bombeiros, que têm trabalhado em contato mais direto com o solo, a orientação da saúde é para que utilizem todos os equipamentos de segurança”, indica a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável.

Com uma área de quase 13 mil quilômetros quadrados, o Paraopeba passa por 48 cidades, sendo 35 na sede da bacia, atingindo as áreas Central e Oeste de Minas. É responsável por abastecer 2,3 milhões de pessoas. Diante das recomendações, vários municípios já se mobilizam em buscas de planos alternativos para que o abastecimento de água não seja interrompido. As iniciativas vão de criação de grandes reservatórios provisórios à utilização dos poços artesianos e outros mananciais para evitar eventuais problemas de falta de água no futuro.

Em nota, a Copasa assegurou que o fornecimento para a Região Metropolitana de Belo Horizonte não será modificado. A empresa conta para isso com as represas do Rio Manso, Serra Azul, Vargem das Flores e com a água do Rio das Velhas, feita em Nova Lima, sem barragem, em sistema conhecido como captação a fio d’água.

Uma das cidades mais afetadas, Pará de Minas, no Centro-Oeste do estado, desativou o sistema de abastecimento localizado no distrito Córrego de Barro, que provinha do Paraopeba, e só vai usá-lo novamente quando o governo de Minas certificar que a bacia não está contaminada. Nesse caso, a alternativa têm sido os ribeirões Paiva e Paciência e diversos poços artesianos. A concessionária Águas de Pará de Minas afirmou que essas fontes de fornecimento serão suficientes para atender a população de 92.739 pessoas (segundo o Censo de 2014).

O diretor de Finanças da Vale, Luciano Siani afirmou nessa quinta-feira que a membrana de contenção instalada no rio na altura da cidade seria concluída na tentativa de impedir que os rejeitos atrapalhassem a captação de água na cidade. A intenção dos técnicos é que a turbidez da água seja baixa o suficiente para permitir a captação. No entanto, na noite de quarta-feira, a Secretaria de Estado do Meio Ambiente já havia informado que suas equipes já haviam detectado alterações na qualidade da água, e a classificaram como imprópria para consumo.

Captações próprias

A Defesa Civil assegura que a contaminação da água da Bacia do Rio Paraopeba vai atingir apenas algumas comunidades e produtores rurais que fazem captações próprias. Desde o desastre de Brumadinho, autoridades monitoram diariamente 22 pontos de captação de água não tratada da bacia.

A Prefeitura de São Joaquim de Bicas, na Grande BH, desenvolveu ações provisórias para que o fornecimento de água não fosse interrompido. Esmeraldas, Ibirité e Moeda, também localizadas na Região Metropolitana da capital, optaram por não fazer alertas à população e vêm se amparando nos comunicados emitidos pela Copasa. As autoridades locais, no entanto, orientaram as comunidades sobre o risco grande de contaminação com o consumo impróprio de água do Paraopeba.

Ainda na manhã de quinta, a Fundação SOS Mata Atlântica iniciou uma expedição pelo Paraopeba para tentar dimensionar os impactos ambientais do mar de lama, além de verificar seu potencial de chegar a outras regiões. Nos próximos dias, a equipe de água da organização, em parceria com o laboratório de Poluição Hídrica da Universidade de São Caetano do Sul, vai analisar a qualidade de água por 356 quilômetros, do local onde a lama entrou pelo leito até a usina de Três Marias, passando pela hidrelétrica de Retiro Baixo, em Pompéu.

Com EM



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